Revisão das coberturas da Escada das Cabaças e da Sala de Fumo, e conservação de revestimentos interiores do Palácio Nacional da Pena
Na época em que o Palácio da Pena era habitado por membros da família real portuguesa, os convidados entravam pela Porta das Cabaças, localizada no túnel por baixo do Tritão, no lado esquerdo. Subindo pela Escada das Cabaças, uma escadaria em caracol que parte da porta com o mesmo nome, os convidados eram recebidos nas salas de convívio e entretenimento da zona pública do Palácio: o Salão Nobre (então designado Sala do Bilhar) e a Sala de Fumo, situadas de cada lado da Sala de Entrada.
A partir de junho de 2022, estes espaços encontram-se submetidos a trabalhos conservação e restauro, com duração prevista de 6 meses. Enquadrada na estratégia de conservação e valorização do Palácio Nacional da Pena, esta intervenção obedece às metodologias definidas no plano de Gestão Patrimonial do monumento, que prevê processos de conservação e manutenção regulares das diferentes tipologias de revestimentos existentes no palácio, promovendo a conservação sustentável deste importante edifício a longo prazo.
O objetivo fundamental da empreitada é a melhoria do estado de conservação do palácio, estancando as alterações dos materiais e contribuindo para a sua salvaguarda para memória futura, valorizando, simultaneamente, os seus valores históricos e estéticos.
Trabalhos contemplados
Esta intervenção prevê ações de manutenção no revestimento azulejar das cúpulas douradas da Sala de Fumo e da Escada das Cabaças, muito expostas a condições atmosféricas adversas. Está prevista a limpeza cuidada das superfícies vidradas, a revisão de juntas para evitar infiltrações no interior do espaço e a estabilização do revestimento em azulejos. Prevê-se também a revisão de caleiras e de outros elementos das coberturas, e ainda das caixilharias em ferro e vidro, elementos essenciais para a conservação do interior do palácio.
No interior do palácio, prevê-se a conservação do revestimento em estuque e dos restantes elementos da Sala de Entrada, bem como a conservação da pintura decorativa da Escada das Cabaças. O estado de conservação destes elementos decorativos apresenta depósitos superficiais, eflorescências salinas, desagregação das argamassas e do estuque, lacunas pontuais, e placas em vias de destacamento. Estas alterações serão, assim, estabilizadas, com vista a melhorar a leitura dos espaços e a salvaguardar a autenticidade e a memória histórica do Palácio Nacional da Pena.
Sobre os objetos da intervenção
Os revestimentos são memórias únicas - materiais e imateriais - das tecnologias construtivas das diferentes fases do edifício, revelando os diferentes gostos e expressões polícromas arquitetónicas, testemunhos da passagem do tempo.
Os azulejos das cúpulas douradas do Palácio da Pena foram produzidos pela conhecida Fábrica Roseira, ativa durante o século XIX, responsável também pelos revestimentos das fachadas - padrão neomourisco -, da Sala de Jantar e da Casa de Banho do Veador.
A Sala de Entrada foi finalizada em 1859, com a aplicação de decoração em pintura, estuque de padrão de cestaria e emolduramentos em pedra calcária, nas portas e nos nichos. O pavimento em lioz creme e encarnadão, de padrão axadrezado, também faz parte da decoração original.
A Escada das Cabaças apresenta um revestimento decorativo de gosto vegetalista, rematado por molduras e outros elementos decorativos arquitetónicos em trompe l’oeil, executado com técnicas de cal a seco.
Uma vez concluídos trabalhos de conservação e restauro da Sala de Entrada do Palácio da Pena, prevê-se uma nova museologia para este compartimento, com vista à reconstituição histórica dos ambientes à época da família real.
Serão devolvidas a esta sala peças que ali estiveram no período de D. Fernando II, como um aquário do século XVIII, produzido na Real Fábrica do Rato (Lisboa), e um par de jarras do reconhecido modelador Jacob Petit (1797-1868, Paris) que, ao regressarem ao lugar para o qual foram adquiridas pelo construtor da Pena, recuperam a função decorativa que antes tiveram. O lustre em carvalho recortado que se encontrava nesta divisão, e que foi encomendado por D. Fernando II, em 1866, à empresa Barbosa e Costa, foi localizado pela equipa do Palácio Nacional da Pena na reserva do Palácio Nacional da Ajuda. Tendo sido restaurado, será igualmente devolvido ao seu devido lugar. Será, ainda, reconstituída uma cortina em tom verde-escuro com passamanarias douradas, cuja cuidadosa encomenda à mesma casa Barbosa e Costa, igualmente em 1866, atesta o impacto visual pretendido para esta entrada dos convidados de D. Fernando II no Palácio da Pena.