Matinha de Queluz reabre ao público aos domingos

No passado domingo, 3 de março, data em que se assinalou o Dia Mundial da Vida Selvagem, cujo objetivo é sensibilizar os cidadãos para a proteção da fauna e flora, sobretudo das espécies ameaçadas, a Matinha de Queluz reabriu ao público. O espaço florestal de cerca de 21 hectares, cogerido pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), pelo Município de Sintra e pela Parques de Sintra, passará a estar aberto todos os domingos, gratuitamente, entre as 9h00 e as 18h00.

A reabertura ao público acontece após um período de encerramento, iniciado em dezembro de 2022, durante o qual a Parques de Sintra procedeu à limpeza integral do espaço e a intervenções sobre o arvoredo, para assegurar a segurança de pessoas e bens.

O limite perimetral da Matinha de Queluz já tinha sido requalificado entre janeiro de 2020 e janeiro de 2021, altura em que a Parques de Sintra levou a cabo a recuperação dos muros exteriores, a desobstrução dos bueiros existentes e a execução de novos bueiros onde se verificou essa necessidade.

A intervenção envolveu, igualmente, a reabertura dos antigos portões de acesso, que se encontravam entaipados, e a instalação de novos portões em ferro, devolvendo, assim, a leitura original ao espaço.

Estabelecida nos finais da década de 1770, a Matinha de Queluz é uma antiga tapada de caça do Palácio Nacional de Queluz, cujos muros foram edificados no final do século XVIII. De acordo com algumas referências, em 1823, a Rainha Carlota Joaquina teria mandado construir uma praça no meio da mata, no local hoje conhecido como “meia-laranja”, destinada às exibições tauromáquicas e aos espetáculos de teatro ao ar livre que o seu filho D. Miguel apreciava.

Originalmente, a Matinha estava ligada aos jardins do Palácio Nacional de Queluz por meio de uma ponte ou passadiço sobre o Rio Jamor, mas essa estrutura foi suprimida na altura da construção do IC19, o que levou ao seu progressivo afastamento do Palácio e da vila, hoje cidade de Queluz.

Para além do seu valor histórico, a Matinha de Queluz é um espaço florestal de grande relevância para a conservação da natureza. Ao nível da flora, preserva vegetação nativa e espécies autóctones, como sobreiros e carvalhos. No que se refere à fauna, onde outrora viveram javalis, lebres e cabras do mato, temos hoje um habitat dominado por espécies de aves tipicamente florestais. Na vegetação mais baixa, abundam melros, piscos-de-peito ruivo, toutinegras-de-barrete e carriças. Já nas copas das árvores, são frequentes chapins e estrelinhas.

Na última inventariação de vertebrados terrestres no espaço, desenvolvida entre 2016 e 2019, pela Parques de Sintra e pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), foi registada a presença de 52 espécies de aves durante os trabalhos de monitorização no local e foram listadas 85 espécies de aves na Matinha de Queluz e na área envolvente.

No que diz respeito aos mamíferos, foram detetadas diversas espécies selvagens, incluindo o ouriço-cacheiro, a gineta, o rato-preto e diversos micromamíferos não identificados. Ao nível dos répteis, foi detetada a ocorrência da lagartixa-verde ou lagartixa-esverdeada.

Conjugando importantes valores históricos e naturais, a Matinha de Queluz é um espaço de características únicas e de grande potencialidade para a educação ambiental e para a sensibilização da população (em especial, dos jovens) para os valores da conservação da natureza e da identidade local. Nesse sentido, as três entidades que, desde 2018, cogerem o local vão continuar a trabalhar para garantir a sua proteção e a sua fruição pública, nomeadamente, através de um plano de gestão que está a ser ultimado.

Numa segunda fase do projeto de reabilitação do limite perimetral e das entradas da matinha de Queluz, prevê-se a requalificação da entrada principal do recinto, com vista à reposição do remate do seu limite murado, atualmente interrompido pelo traçado do IC19. Esta intervenção beneficiará as condições de acolhimento no espaço, contribuindo para a sua valorização.