Arte Equestre Portuguesa declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO
04 dez. 2024
A UNESCO confirmou ontem a inscrição da Arte Equestre Portuguesa na lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade, na sequência da candidatura apresentada em parceria pela Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro-Sangue Lusitano (APSL), pela Parques de Sintra e pelo Município da Golegã. A revelação foi feita na cidade de Assunção, no Paraguai, no decorrer da 19ª sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, perante a delegação portuguesa que integra Rosa Batoréu, Embaixadora de Portugal na UNESCO (Paris); Luís Calaim, administrador da Parques de Sintra; e João Ralão, Secretário-Geral da APSL.
No discurso que proferiu após o anúncio da UNESCO, Luís Calaim, lembrou que “a Equitação Académica é uma das formas de expressão da Arte Equestre Portuguesa e a sua principal guardiã é a Escola Portuguesa de Arte Equestre (EPAE).” O administrador da Parques de Sintra, entidade gestora da EPAE, sublinhou que esta instituição “assume há 45 anos a missão de preservar e divulgar o legado centenário da Picaria Real, a Academia Equestre da Corte portuguesa do século XVIII, e princípios do século XIX, conservando, até aos dias de hoje, o mesmo tipo de cavalo, o Lusitano da coudelaria de Alter, os mesmos arreios e os mesmos trajes.”
Recuperando exercícios da equitação Barroca, tais como os Ares Altos, a EPAE realiza apresentações, espetáculos e treinos abertos ao público e faz também apresentações em cerimónias oficiais, quer em Portugal, quer no estrangeiro. É considerada um importante veículo de divulgação do Cavalo Lusitano e, sobretudo, da cultura e tradição equestre portuguesas.
Sem deixar de frisar que “a equitação portuguesa fundamenta-se, sobretudo, na profunda relação estabelecida entre o cavalo e o seu cavaleiro”, Luís Calaim concluiu a sua intervenção felicitando “todos os cavaleiros da Escola Portuguesa de Arte Equestre, bem como todos os praticantes da equitação portuguesa, em Portugal, e pelos quatro cantos do mundo”.
Por seu turno, João Ralão, Secretário-Geral da Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro-Sangue Lusitano, afirmou: “a Arte Equestre em Portugal define-se como um complexo cultural, social e artístico singularizado pela utilização de um cavalo excecional, como o Puro-Sangue Lusitano, dotado de características únicas e exclusivas que conferem a esta arte a sua maior virtuosidade.”. Sustentou, igualmente, que “a Arte Equestre nasceu, em Portugal, como causa e consequência da existência deste cavalo, que a sugeriu naturalmente, e que por ela foi sendo continuamente aperfeiçoado”, na base do “máximo respeito pelo animal e pelo seu bem-estar.”
Concretização do projeto levou quase uma década
Em outubro de 2015, por iniciativa de João Costa Ferreira e Gonçalo Couceiro, foi iniciado um trabalho exploratório, junto do Ministério da Cultura e da Comissão Nacional da UNESCO, dois agentes institucionais promotores da salvaguarda do património imaterial em Portugal, que permitiu concluir que uma ambicionada candidatura deveria contemplar todo o património contido nesta arte, desde o cavalo a todo o conjunto de saberes, práticas, materiais, usos e conhecimentos que caracterizam a Equitação Portuguesa.
Como resultado desse trabalho, em 19 de setembro de 2017, foi assinado um protocolo de cooperação entre a Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro-Sangue Lusitano (APSL); a Parques de Sintra, entidade gestora da Escola Portuguesa de Arte Equestre (EPAE); e a Câmara Municipal da Golegã; com o objetivo comum de reunir esforços para promover a inscrição da Arte Equestre em Portugal nos inventários nacional e da UNESCO.
O êxito da primeira fase do projeto traduziu-se na inscrição da “Equitação Portuguesa” no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, a 28 de abril de 2021, que resultou da investigação coordenada por João Costa Ferreira.
O processo culmina agora, ao fim de quase uma década de trabalho, com o reconhecimento da Arte Equestre Portuguesa como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.