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Danças, touradas e frutas de Colares. Como era preparada a chegada da rainha a Sintra?

09 jul. 2024

16 D

Durante muitos anos, Sintra pertenceu à Casa das Rainhas – nome dado ao conjunto de bens doados pelos monarcas às suas consortes – e, por isso, a primeira visita de uma soberana funcionava como uma forma de afirmação e legitimação do seu poder sobre a região (poder administrativo, judicial e económico). Como era preparada esta entrada? Que pedidos especiais eram feitos?

 

O testemunho da vinda da rainha Luísa de Gusmão a Sintra, a 15 de julho de 1652, ajuda-nos a ter uma noção de como estes dias eram vividos. Tomé Pinheiro da Veiga, ouvidor da Rainha (ou seja, o oficial de justiça responsável por tratar processos que tinham a Rainha como juíza suprema) tratou de tudo diretamente com a Câmara de Sintra. Numa carta enviada a 9 de julho, pediu que na receção da rainha fosse garantida “toda a demonstração de festas e alegria”. Mas foram feitos pedidos mais específicos. Aqui ficam exemplos:

 

- Todos os caminhos que levam a Sintra e que saem de Sintra deveriam estar bem decorados para celebrar a passagem da Rainha;

 

- Se fosse necessário, a Câmara deveria convocar pedreiros e cabouqueiros que, com picaretas, romperiam penedos e destruiriam qualquer estorvo que impedisse a passagem do cortejo;

 

- A Câmara deveria também chamar os povos de todas as freguesias para que viessem receber a Rainha. Da vila de Colares, especificamente, deveria ser enviado um grupo de moças com cestas de fruta para oferecer à soberana;

 

- Deveria ser assegurada a realização de danças e folias e todo o “alvoroço” que se possa fazer, inclusive uma corrida de touros no terreiro do palácio;

 

- Para o banquete do segundo dia, a Câmara deveria garantir que eram preparados perus, galinhas, carneiros, vitelas, caça e cabritos.

1652 Visita D

No dia 15, tudo estava como esperado. De acordo com o testemunho que chegou ao dia de hoje através da Coleção de São Vicente, a rainha chegou a Sintra, por volta das 18h00, ao som de “trombetas, danças e folias”, e foi recebida na Sala dos Cisnes do Paço de Sintra pelo juiz de fora da vila (o oficial local mais importante). Houve naquela noite “muito fogo”.

 

Ao longo da sua estadia, além de apreciar todos os momentos de festa na vila, a rainha visitou vários sítios, nomeadamente “o mosteiro da Pena”, o Convento dos Capuchos, a Penha Longa, Colares, Cascais e a pedra de Alvidrar – entre a praia da Adraga e a praia da Ursa.

 

Foi uma semana de muita festa em Sintra, digna de uma rainha!