Palácio da Pena: visita ao interior apenas com data e hora marcada, indicadas no seu bilhete; não existe tolerância de atraso. Saiba mais

Parque da Pena, o mais importante arboreto de Portugal

22 mai. 2024

Perder-se no Parque da Pena pode parecer uma ideia assustadora – são, de facto, 85 hectares –, mas é, na verdade, o melhor que qualquer visitante pode fazer. Porque em cada canto há um encanto, há algo para descobrir, uma espécie rara, uma flor de uma beleza inigualável, um aroma diferente, uma luminosidade indiscritível. Tudo no Parque da Pena é belo, o difícil é conseguir assimilar tanta beleza de uma só vez.

 

Pode o visitante pensar que esta zona de Sintra foi bafejada pela sorte e que as mais lindas plantas nasceram ali por acaso, como que atraídas umas pelas outras. Mas não: trata-se de um trabalho meticuloso dos criadores da Pena, de um homem e de uma mulher que encararam a criação deste parque como uma das suas missões de vida.

 

Apreciador da estética romântica e do exotismo, o rei D. Fernando II – dono do Parque e do Palácio da Pena, propriedades compradas com a sua fortuna pessoal depois de casar com D. Maria II –, aliou estes conceitos à impetuosidade da natureza local e projetou um grande parque, com locais de interesse específicos (a Cruz Alta, o Templo das Colunas, o Alto de Sta. Catarina, as Feteiras da Rainha e da Condessa, tudo locais de uma beleza excecional).

 

Ao longo dos caminhos para estes locais, o rei mandou plantar as mais variadas espécies, vindas dos quatro cantos do mundo. Segundo os registos que chegaram até aos dias de hoje, D. Fernando II foi plantando centenas de árvores ao longo dos anos – desde freixos, araucárias, nogueiras, pinheiros, abetos, figueiras, ginjeiras, faias, macieiras, carvalhos… Só em 1841, o barão de Eschwege – arquiteto do Palácio da Pena – dava conta da plantação de “10 mil árvores esquisitas”. Este adjetivo mostra bem a estranheza que algumas espécies, vindas do outro lado do mundo, poderiam causar… A quantidade de espécies diferentes faz com que o Parque da Pena se traduza no mais importante arboreto em Portugal!

E7A1755©PSML Jose Marques Silva

Algumas curiosidades sobre o Parque da Pena

- O limão era uma bela fonte de receitas! Em 1862, o escoamento da produção limoeira não estava a funcionar como deve ser – “nunca a Abelheira teve tanto limão como este anno e que melhor aparencia apresenta” – e, por isso, “o secretário do rei atuou com veemência para que não se desperdice tal volume, e se promova venda em que se tenha em conta a qualidade do limão”, lê-se na obra ‘D. Fernando II – Rei-Artista, Artista-Rei’.

 

- D. Fernando tentou criar uma reserva de caça grossa no Parque da Pena, “mas as condições muito pedregosas do Parque e o difícil exercício de guardaria levantavam grandes problemas, a ponto de regularmente aparecerem feridos ou mortos vários bichos. D. Fernando, desagradado com a situação, mandou transferir para Mafra, em 1855, o efetivo restante: o veado, as duas corças, o gamo e as duas gamas”, refere o mesmo livro.

 

- As camélias asiáticas, introduzidas por D. Fernando II no Parque da Pena na década de 1840, tornaram-se o ex-libris do inverno sintrense, sendo motivo de bailes e festas. Existe até o Rali das Camélias! O Jardim das Camélias do Parque da Pena foi distinguido pela Internacional Camellia Society como Jardim de Camélias de Excelência em 2014.

 

- Existe uma árvore no Parque que é conhecida como ‘O Gigante da Pena’. Trata-se de uma Thuja plicata de 35m de altura, com uma característica notável: parece que caminha! A explicação para este fenómeno está aqui.

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A Condessa e o Parque

Elise Hensler, a Condessa d’Edla – segunda mulher de D. Fernando II – teve um papel fundamental neste projeto de reflorestação da Pena: “Se é verdade que foi D. Fernando que iniciou o processo de arborização da Pena, também é certo que, a partir do momento em que passa a viver com o rei, no início da década de 1860, será a condessa, vinte anos mais nova que o marido, quem vai começar a dirigir grande parte dessa empreitada. A ela se deve, entre muitas outras coisas, a importação maciça, através dos seus contactos familiares nos Estados Unidos, de espécies exóticas do continente americano”, lê-se no livro ‘Os Criadores da Pena’.

 

D. Fernando e a mulher passavam largas temporadas no Chalet, construído na zona ocidental do parque. Um dos seus hobbies preferidos era ver, precisamente, como estava a florescer o seu projeto. O rei percebeu rapidamente que a Condessa tinha um gosto genuíno pela preservação de todas aquelas espécies e isso está bem explícito no seu testamento: “Peço à minha muito querida esposa que conserve, por minha memória o sistema de disposição geral das plantações que até agora tem seguido e dirigido com tanta inteligência e bom gosto sendo este sistema o único possível n’estes sítios para lhe conservar aquelle caracter sui generis que todos reconhecem”.

 

A Condessa levou esta missão a sério. Na correspondência que troca com a rainha D. Amélia, mulher de D. Carlos, depois da morte de D. Fernando II, percebe-se a devoção com que se dedicou ao cuidado do Parque da Pena: “(…) Estive na Pena há coisa de três semanas (…) Espero que Sua Majestade tenha visto o jardim de fetos e concorde com as alterações que lhe fiz. Espero que o tempo melhore para poder ir passar uns dias ao chalet”, escreveu. Em 1904, já com 67 anos, mostra que continua a cuidar do parque com todo o amor e carinho: “Continuo a levar a cabo aquilo que considero um dever sagrado para com a memória do Rei D. Fernando e que é tratar das nossas queridas plantas”.