Um património de todos, para todos - as influências dos povos que passaram (e passam) por Sintra
08 mai. 2024
Um fundo azul e 12 pequenos pontos amarelos. Assim se apresentou o Castelo dos Mouros a 9 de maio de 2024, para assinalar o Dia da Europa, um dia que celebra a união entre povos, a paz e a promoção de valores universais.
Sintra é um exemplo único dessa multiculturalidade – Atualmente, é o segundo concelho do país com mais estrangeiros a residir no seu território. Segundo dados dos Censos de 2021, existiam nesse ano mais de 5200 cidadãos europeus a viver em Sintra e mais de 32.500 de outras nacionalidades.
A sua história mostra precisamente esse espírito de comunidade entre os povos. O exemplo mais óbvio é, claro, o Castelo dos Mouros. Isolado lá no alto da Serra de Sintra, esta fortificação foi fundada no século X, época da ocupação muçulmana da Península Ibérica. Entre as suas muralhas é possível encontrar evidências da presença de um povoado islâmico e de outro cristão, bem como um túmulo erigido no século XIX para sepultar ossadas recolhidas durante as intervenções então realizadas, que exibe um crescente lunar e uma cruz, e o epitáfio “O que o homem juntou, só Deus poderá separar”, por não se saber se se tratavam de restos humanos cristãos ou muçulmanos.
Veja-se também o Palácio Nacional de Sintra, último sobrevivente dos palácios medievais da coroa portuguesa, cujos elementos decorativos documentam a multiculturalidade local, nomeadamente através do gosto mudéjar – feliz simbiose entre a arte cristã e a arte muçulmana –patente nos exuberantes revestimentos em azulejo.
Também o Palácio Nacional da Pena incorpora na sua arquitetura influências góticas, mas também mouriscas, que nos remetem para um cenário de ‘mil e uma noites’. Já o Parque que o rodeia é ‘casa’ de espécies vindas dos quatro cantos do mundo. Destacam-se as coleções de camélias asiáticas, introduzidas por D. Fernando II na década de 1840 e que se tornaram o ex-libris do inverno sintrense sendo motivo de bailes e festas.
Há ainda o Parque e o Palácio de Monserrate. No parque, encontramos espécies de vindas de todos os continentes – alguns espaços têm até nomes de países, como o Jardim do México e o Jardim do Japão. No palácio, vemos motivos exóticos, influências indianas, sugestões mouriscas, uma mistura de pormenores de comunidades muito diferentes.
Foi esta panóplia de inspirações que fez com que a UNESCO – aquando da classificação da Paisagem Cultural como Património Mundial – considerasse Sintra um exemplo único de local que preservou a sua integridade fundamental, que conserva marcas significativas das sucessivas culturas que o ocuparam e que coexistem, hoje, ainda, em harmonia. Existe, assim, uma preservação as memórias de todos os povos que aqui sempre se sucederam e complementaram, tal como como o atesta o ecletismo das suas construções.