Facto ou Mito: a Família Real celebrava os Santos Populares?
21 jun. 2023
🎵 “Santo António já se acabou
O São Pedro está-se a acabar
São João, São João
Dá cá um balão
Para eu brincar” 🎵
No século XVIII, músicas como esta não existiam, mas isso não significa que os Santos Populares não fizessem parte das festividades setecentistas. No Palácio Nacional de Queluz, estas festas eram celebradas com grande pompa e circunstância. Dois santos tinham particular destaque: São Pedro e São João.
Isto porque, enquanto o povo celebrava os Santos Populares no seu todo, com festas e arraiais nas ruas e ruelas de todo o país, a corte, por sua vez, celebrava os santos dos nomes de reis, rainhas, príncipes e princesas. Não é por isso de espantar que a Família Real celebrasse o dia de São Pedro (santo do mesmo nome do senhor da Casa do Infantado, futuro rei-consorte D. Pedro III) e o São João (santo do nome do pai de D. Pedro, rei D. João V, assim como do filho, o infante D. João, futuro Príncipe Regente e futuro rei D. João VI).
Segundo a documentação existente, estas festas implicavam uma grande logística: eram contratados músicos e picadores, tinham de ser assegurados os mais variados divertimentos nos jardins do Palácio e preparavam-se banquete requintados. De acordo com as listas de compras feitas na altura pelo cozinheiro e conserveiro de Queluz, nada faltava nestes jantares: carne, peixe, legumes, fruta, frutos secos, especiarias e bebidas (vale a pena saber mais sobre o que comiam os reis e rainhas portugueses – pode ler sobre o assunto aqui).
“Sabemos que, em diversas ocasiões de festas em Queluz, eram contratados diversos artistas para divertimento da corte, como tocadores de copos, lançadores de balões, artistas tipo ‘circense’ de Colombinas e Arlequins e outros ligados à ‘Commedia del’Arte’”, explica a conservadora do Palácio Nacional de Queluz, Conceição Coelho.
Em 1758, uma notícia na Gazeta de Lisboa faz referência às comemorações do Dia de São Pedro: “… se divertirão no dia de S. Pedro na Caza de campo de Quelúz, onde o Serenissimo Senhor Infante D. Pedro lhes deu o divertimento, de verem diferentes artifícios de fogo do Ar, não só fabricados nesta Cidade, mas mandados vir de Italia; e tudo naquele sitio se fez com muyta magnificência, muyta profusão, bom gosto, e boa ordem.”
CONCLUSÃO: Facto. A Família Real comemorava os Santos Populares, mas de uma forma diferente daquela que conhecemos.