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Ao todo, quantos reis viveram em Sintra?

30 mar. 2023

O Paço de Sintra, conhecido hoje em dia como Palácio Nacional de Sintra, começou a ser construído entre os séculos X e XI, antes da criação do Reino de Portugal. Por lá passaram muitos monarcas, ao longo de quatro dinastias. No concelho, existe outro palácio real – o Palácio Nacional de Queluz. Depois do terramoto de 1755, esta tornou-se a residência oficial da Corte, até à partida para o Brasil, aquando das invasões francesas. Em Sintra, existe ainda um outro palácio que foi habitado por reis e rainhas: o Palácio Nacional da Pena. Este era o refúgio íntimo preferido da Família Real, que gostava de aproveitar o tempo fresco e a quietude da Serra de Sintra, longe da corte.

 

Mas, afinal, quantos reis passaram por estes três palácios de Sintra? A resposta é simples: todos! Existem registos que comprovam a passagem de todos os monarcas – até os da dinastia filipina – por Sintra, mas uns deixaram mais a sua marca do que outros. Aqui damos alguns exemplos:

 

 

D. Afonso Henriques: logo após a conquista de Lisboa, em 1147, e a rendição dos mouros em Sintra, o primeiro rei de Portugal mandou edificar uma estrutura religiosa que hoje conhecemos como Igreja de São Pedro de Canaferrim. Foi também por volta dessa altura – mais especificamente em 1154 – que D. Afonso Henriques atribuiu uma carta de foral a Sintra. Foi o primeiro concelho a receber esta carta do rei.

 

D. Dinis: como já foi referido, a construção do Paço de Sintra começou ainda antes da fundação de Portugal, mas a verdade é que o primeiro documento a atestar a existência de um palácio no Chão da Oliva, como era chamado aquele local, data de 1281. Trata-se de um contrato estabelecido entre o rei D. Dinis e os muçulmanos livres de Colares. O rei propôs diminuir-lhes a carga fiscal, mas em contrapartida teriam de zelar pela conservação do palácio.

 

Rainha Santa Isabel: o Palácio, a vila de Sintra e o seu território foram concedidos à mulher de D. Dinis em 1287. A propriedade continuava a ser da coroa, mas a rainha era a beneficiária dos seus proventos económicos. Assim começou a tradição de entregar Sintra às rainhas. Foi também Isabel de Aragão que implementou em Sintra o culto ao Divino Espírito Santo – ainda hoje, existem espalhadas pelo concelho várias igrejas, capelas e festas dedicadas ao Espírito Santo.

 

D. João I: foi no Paço de Sintra – edifício ao qual dedicou a maior atenção, ordenando uma das maiores intervenções de sempre no palácio – que o Mestre de Avis recebeu, em 1413, os espiões enviados à corte da Sicília numa pretensa missão diplomática, cujo real objetivo era o de obter dados estratégicos sobre o porto de Ceuta. Não esquecer que a conquista desta cidade acabou por marcar simbolicamente o início dos Descobrimentos.

 

D. Duarte: a partir do século XV, o Paço de Sintra começa a ser mais frequentado pelos monarcas portugueses. Um dos grandes apaixonados por esta vila foi D. Duarte, que escreveu o seguinte texto: “vimos a esta vila de Sintra muitas vezes ter alguns verões. E assim cremos que o farão os reis que depois de nós vierem, por acharmos a terra de muito bons ares e águas e de comarcas em que há grande abundância de mantimentos de mar e de terra, e por a nossa muito nobre e Leal cidade de Lisboa estar tão próxima, e por termos em Sintra muita folgança e desenfadamento de montes e de caças. E por termos nela nobres paços de mui espaçadas vistas”.

 

D. Afonso V: o filho de D. Duarte nasceu (1432) e morreu (1481) no Palácio Nacional de Sintra.

 

D. João II: foi no Paço de Sintra que João, filho de D. Afonso V, foi aclamado rei de Portugal.

 

D. Manuel I: Foi responsável por algumas das alterações mais marcantes no Palácio, nomeadamente a implementação dos revestimentos azulejares hispano-mouriscos e a criação da Sala dos Brasões. No final do seu reinado, o Paço de Sintra era um dos mais grandiosos palácios dos reis de Portugal. E foi precisamente em Sintra que, em 1501, D. Manuel tomou conhecimento de um dos grandes feitos que marcaram o seu reinado: a descoberta do Brasil.

 

D. Filipe I (II de Espanha): na sua estadia em Sintra, depois de visitar pela primeira vez o Convento dos Capuchos, em 1581, D. Filipe enviou uma carta às suas filhas que ilustra bem o que sentiu quando chegou a este refúgio dos frades franciscanos, ‘escondido’ na Serra de Sintra. “De todos mis reinos, hay dos sítios que mucho estimo, el Escorial por tan rico y el Convento de Santa Cruz [conhecido hoje em dia como Convento dos Capuchos] por tan pobre”, escreveu o monarca.

 

D. Afonso VI: É provavelmente um dos reis mais associados a Sintra, pelos piores motivos. D. Afonso VI foi afastado do trono pelo seu irmão, o futuro D. Pedro II, que alegou que o seu irmão estava física e mentalmente incapaz. Depois de ter estado uns tempos isolado na Ilha Terceira, nos Açores, o rei deposto foi mandado para o Palácio de Sintra, onde morreu ao fim de nove anos enclausurado. No quarto onde dormia, existiam marcas no chão que, contava-se, tinham sido deixadas pelo rei, de tanto andar de um lado para o outro, fechado naquela pequena divisão. Será isto um facto ou um mito? A resposta está aqui.

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D. Pedro III: era ainda terceiro Senhor da Casa do Infantado quando decidiu começar a ampliar a Casa de Campo de Queluz. Mais tarde, em 1760, quando foi anunciado o seu casamento com a herdeira do trono, D. Maria I, o futuro D. Pedro III decidiu aprofundar as obras nesta propriedade, dando-lhe uma envergadura de palácio real e criando um verdadeiro espaço de lazer para a Família Real, com várias salas de aparato e um jardim sumptuoso. No fundo, é graças a D. Pedro III que temos hoje o Palácio Nacional de Queluz.

 

D. Maria I: após o terramoto de 1755, D. Maria I fez do Palácio de Queluz a sua residência oficial. O mesmo fez o príncipe regente D. João VI. O palácio é habitado em permanência até 1807 – um dia antes da chegada das tropas napoleónicas a Lisboa, a Família Real partiu para o Brasil.

 

D. Carlota Joaquina: com o regresso da Família Real a Portugal, em 1821, seria de esperar que o Palácio de Queluz voltasse a ser a morada principal. Mas não: tornou-se, sim, a residência de Carlota Joaquina, em regime de semiexílio, depois de ter sido acusada de conspirar contra o marido.

 

D. Pedro IV: antes disso, viveu-se um dos momentos mais felizes em Queluz. Foi naquele palácio, mais precisamente no Quarto D. Quixote, que nasceu o futuro D. Pedro IV (D. Pedro I do Brasil). Acabou por morrer no mesmo quarto, com apenas 34 anos.

 

D. Miguel: Queluz foi também a morada (e o local de nascimento) do irmão de D. Pedro IV. Durante o período da Guerra Civil – que opôs absolutistas (comandados por D. Miguel) e liberais (chefiados por D. Pedro), foi D. Miguel quem habitou o Palácio. Os liberais acabaram por vencer a guerra e D. Pedro pôde regressar à casa onde nasceu.

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D. Fernando II: com a sua fortuna pessoal, o marido de D. Maria II comprou um antigo mosteiro em Sintra, no topo da serra. Tinha como objetivo criar um refúgio para a família, onde pudessem passar longas temporadas felizes, longe da azáfama de Lisboa. Infelizmente, D. Maria II morreu antes de o rei-consorte conseguir terminar o grande projeto da sua vida. Esse projeto era a construção do Parque e do Palácio da Pena, que acabou por ser um dos locais prediletos dos seus descendentes, nomeadamente de D. Luís I e de D. Carlos.

 

D. Maria Pia de Saboia: depois de enviuvar, a mulher de D. Luís I passou longas temporadas no Palácio de Sintra. Ainda hoje, é possível visitar os seus aposentos. D. Maria Pia foi a última monarca a habitar o Palácio. A 3 de outubro de 1910, após um jantar com o futuro presidente do Brasil, Hermes da Fonseca, D. Manuel II regressa ao Paço das Necessidades e alerta a avó para o que se estava a passar em Lisboa - a instauração da República. António Teixeira de Sousa, o então presidente do Conselho de Ministros, consegue convencer D. Manuel II a sair das Necessidades e a refugiar-se em Sintra ou em Mafra. Rapidamente se percebeu que o ambiente não era seguro.

 

D. Amélia de Orleães: a mulher de D. Carlos era apaixonada pelo Parque e Palácio da Pena. Costumava passar longas temporadas a explorar a natureza, a apanhar sol no terreiro e a aproveitar a frescura de Sintra. A 3 de outubro de 1910, D. Manuel II alerta também D. Amélia para o que se estava a passar. A rainha-mãe percebeu rapidamente que teria de abandonar Sintra o quanto antes. Assim, na manhã de dia 5 de outubro, D. Amélia e D. Maria Pia abandonaram a Pena e o Paço de Sintra para se juntarem a D. Manuel na Ericeira, tornando-se assim as últimas monarcas a habitar os dois palácios. Dali, partiram para o exílio. Nesse mesmo dia, foi implantado o regime republicano em Portugal.

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