A história de amor que os portugueses rejeitaram, mas que Sintra abraçou
14 fev. 2023
No Dia dos Namorados, recordamos uma história de amor entre um rei e uma cantora. Uma história de amor que, na altura, a população portuguesa rejeitou, mas que acabou por se tornar numa das mais conhecidas no que à Família Real diz respeito. E, claro, Sintra está no centro de tudo.
Corria o ano de 1860. No Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, estava em cena ‘Um Baile de Máscaras’, de Verdi. A alta sociedade acorreu à sala de espetáculos – ninguém queria perder as melhores produções que chegavam a Portugal. Na plateia, estava D. Fernando II, pai de D. Pedro V, rei de Portugal, e viúvo da rainha D. Maria II, que morreu durante o parto do 11º filho do casal. O Rei-Artista não conseguia tirar os olhos de uma das personagens - mulher, a cantora lírica suíça Elise Hensler. A verdade é que, poucos meses depois deste espetáculo, Elise já frequentava o Palácio das Necessidades, residências oficial de D. Fernando.
Mas este amor não era visto com bons olhos pela sociedade. O rei-consorte era 20 anos mais velho que a cantora. Além disso, era o pai do rei de Portugal – a relação com uma cantora de ópera era encarada por muitos como algo desprestigiante para a coroa portuguesa.
Fernando e Elise faziam de tudo para ignorar as críticas. Para isso, ‘fugiam’ de Lisboa e refugiavam-se no Parque e Palácio da Pena, propriedade do Rei-Artista. Ali, podiam viver apaixonados e isolados, sem que fossem importunados.
Mas a verdade é que D. Fernando era uma figura pública. Todos queriam saber o que o pai do rei de Portugal andava a fazer, que espaços frequentava, com quem convivia. Indiferente ao escrutínio, o casal vivia uma verdadeira história de amor: passavam longas temporadas em Sintra, longe de tudo e de todos, dedicando-se aos seus interesses em comum, como a literatura, a música e a botânica. Nove anos depois do início da relação, chegou a verdadeira prova de amor: Fernando e Elise casaram a 1869, nove anos depois de se conhecerem e já com D. Luís I no trono, Fernando e Elise casam-se. O enlace ocorreu dias depois de, a pedido do seu primo, o Duque Ernesto II de Saxe-Coburgo e Gotha ter concedido a Elise o título de Condessa d’Edla.
Tal como era de esperar, o casamento não foi bem visto por todos: na nobreza e na imprensa, foram muitos os que levantaram a voz, criticando esta união. Mas Fernando e Elise só tinham olhos um para o outro e para o seu projeto em comum: as plantações no Parque da Pena e a construção de um chalet desenhado pela própria condessa. Estrategicamente situado a poente do Palácio da Pena, o edifício é inspirado nos chalets alpinos, num estilo então muito em voga na Europa. Fernando e Elise passavam os dias ali, a ler, a fazer piqueniques, a contemplar a natureza. Foi ali que viveram, certamente, alguns dos momentos mais felizes das suas vidas. O Chalet da Condessa d’Edla é hoje um dos principais pontos de interesse de Sintra, visitado por milhares de pessoas todos os anos.
O rei e a condessa viveram apaixonados até ao momento em que a morte os separou. Mas nem nessa altura conseguiram evitar as críticas: quando Fernando morreu, em 1885, deixou em testamento os seus bens, incluindo o Castelo dos Mouros e o Palácio da Pena, a Elise, mas foi entretanto interposto um processo judicial com o objetivo de fazer com que este património passasse para as mãos do Estado português. A verdade é que Elise acabou mesmo por vender o Parque e Palácio da Pena e o Castelo dos Mouros à Coroa Portuguesa, ficando com usufruto do chalet e do respetivo jardim até 1904. Depois disso, abandonou Sintra e foi viver com a filha Alice, fruto de uma primeira relação para a Parede, em Cascais. Quando morreu, em 1929, já depois da queda da monarquia, recebeu as honras de figura de Estado.