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A história de amor que os portugueses rejeitaram, mas que Sintra abraçou

14 fev. 2023

Luis Duarte PSML 1237 (1)

No Dia dos Namorados, recordamos uma história de amor entre um rei e uma cantora. Uma história de amor que, na altura, a população portuguesa rejeitou, mas que acabou por se tornar numa das mais conhecidas no que à Família Real diz respeito. E, claro, Sintra está no centro de tudo.

 

Corria o ano de 1860. No Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, estava em cena ‘Um Baile de Máscaras’, de Verdi. A alta sociedade acorreu à sala de espetáculos – ninguém queria perder as melhores produções que chegavam a Portugal. Na plateia, estava D. Fernando II, pai de D. Pedro V, rei de Portugal, e viúvo da rainha D. Maria II, que morreu durante o parto do 11º filho do casal. O Rei-Artista não conseguia tirar os olhos de uma das personagens - mulher, a cantora lírica suíça Elise Hensler. A verdade é que, poucos meses depois deste espetáculo, Elise já frequentava o Palácio das Necessidades, residências oficial de D. Fernando.

 

Mas este amor não era visto com bons olhos pela sociedade. O rei-consorte era 20 anos mais velho que a cantora. Além disso, era o pai do rei de Portugal – a relação com uma cantora de ópera era encarada por muitos como algo desprestigiante para a coroa portuguesa.

 

Fernando e Elise faziam de tudo para ignorar as críticas. Para isso, ‘fugiam’ de Lisboa e refugiavam-se no Parque e Palácio da Pena, propriedade do Rei-Artista. Ali, podiam viver apaixonados e isolados, sem que fossem importunados.

 

Mas a verdade é que D. Fernando era uma figura pública. Todos queriam saber o que o pai do rei de Portugal andava a fazer, que espaços frequentava, com quem convivia. Indiferente ao escrutínio, o casal vivia uma verdadeira história de amor: passavam longas temporadas em Sintra, longe de tudo e de todos, dedicando-se aos seus interesses em comum, como a literatura, a música e a botânica. Nove anos depois do início da relação, chegou a verdadeira prova de amor: Fernando e Elise casaram a  1869, nove anos depois de se conhecerem e já com D. Luís I no trono, Fernando e Elise casam-se. O enlace ocorreu dias depois de, a pedido do seu primo, o Duque Ernesto II de Saxe-Coburgo e Gotha ter concedido a Elise o título de Condessa d’Edla.

 

Tal como era de esperar, o casamento não foi bem visto por todos: na nobreza e na imprensa, foram muitos os que levantaram a voz, criticando esta união. Mas Fernando e Elise só tinham olhos um para o outro e para o seu projeto em comum: as plantações no Parque da Pena e a construção de um chalet desenhado pela própria condessa. Estrategicamente situado a poente do Palácio da Pena, o edifício é inspirado nos chalets alpinos, num estilo então muito em voga na Europa. Fernando e Elise passavam os dias ali, a ler, a fazer piqueniques, a contemplar a natureza. Foi ali que viveram, certamente, alguns dos momentos mais felizes das suas vidas. O Chalet da Condessa d’Edla é hoje um dos principais pontos de interesse de Sintra, visitado por milhares de pessoas todos os anos.

 

O rei e a condessa viveram apaixonados até ao momento em que a morte os separou. Mas nem nessa altura conseguiram evitar as críticas: quando Fernando morreu, em 1885, deixou em testamento os seus bens, incluindo o Castelo dos Mouros e o Palácio da Pena, a Elise, mas foi entretanto interposto um processo judicial com o objetivo de fazer com que este património passasse para as mãos do Estado português. A verdade é que Elise acabou mesmo por vender o Parque e Palácio da Pena e o Castelo dos Mouros à Coroa Portuguesa, ficando com usufruto do chalet e do respetivo jardim até 1904. Depois disso, abandonou Sintra e foi viver com a filha Alice, fruto de uma primeira relação para a Parede, em Cascais. Quando morreu, em 1929, já depois da queda da monarquia, recebeu as honras de figura de Estado.