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1 de novembro: a terra também tremeu em Sintra no Dia de Todos os Santos

01 nov. 2023

Emigus13

Dia 1 de novembro é feriado em Portugal. Nesta altura celebra-se o Dia de Todos os Santos, uma festa em honra de todos os santos e mártires. De acordo com os registos que chegaram aos nossos dias, a origem desta comemoração remonta ao século VII, com o Papa Bonifácio IV.

 

No que a Sintra diz respeito, o cronista Damião de Goes escreveu que, entre outubro e dezembro de 1498, D. Manuel I passou pelo Paço de Sintra e organizou grandes festas por altura dos Dias Santos.

 

“Aos domingos e dias santos (…) Mandava muitas vezes correr touros e jogar cannas, «e pera que os fidalgos não despendessem muito do seu [bens materiais] nestes jogos tinha alfaias e vestidos á mourisca na sua guarda roupa que lhes mandava emprestar. E no jogo das cannas entrava elle algumas vezes o que fazia muito bem e com muita graça, era tão forçoso dos braços que alem de se poer mui bema cavallo tirava com uma canna ou com uma lança com tanta destreza que nenhum outro homem lhe fazia vantagem»”, refere Damião de Goes.

 

Apesar de não existir uma referência direta ao Dia de Todos os Santos, é plausível que a data tenha sido assinalada nesta altura no Paço de Sintra.

Dois séculos depois deste testemunho – se formos mais específicos, 257 anos depois, em 1755 –, um sismo destruiu quase toda a cidade de Lisboa. Seguiu-se um maremoto e vários incêndios. Estima-se que o terramoto tenha atingido uma magnitude entre os 8,7 e os 9 na escala de Richter. É impossível saber ao certo o número de mortos, mas, de acordo com o site do Museu do Terramoto de Lisboa, “a maioria dos estudos concorda que o número de mortes se tenha situado muito provavelmente entre as 12 000 e as 40 000”, numa altura em que a capital tinha cerca de 200 mil habitantes.

 

O terramoto também foi sentido em Sintra. “Na Villa de Cintra cahiu a Igreja Collegiada de S. Martinho, e deixou mortos o seu prior (…), e mais 24 pessoas. O mesmo successo teve a Igreja, e Casa da Misericorida. O Paço Real da mesma Villa ficou bastantemente arruinado, excepto a belíssima Casa da Armaria da Nobreza, feita pelo Senhor Rey D. Manoel; e renovada pelo Senhor Rey D. João V. (…) Passarão de 73 pessoas, que morrerão nesta Villa.”, escreveu, em 1758, três anos após o grande sismo, Joaquim José Moreira de Mendonça, autor da ‘História Universal dos Terramotos’.

 

Mais tarde, António Dâmaso de Castro e Sousa – mais conhecido como Abade de Castro – detalhou os estragos provocados pelo terramoto no Paço de Sintra: “Pelo terramoto do 1º de Novembro do anno de 1755 soffreu este Palácio grave ruína, e com especialidade esta sala (Cisnes), a qual foi reparada por ordem de ElRei D. José; deteriorando-se por esta occasião muito da sua antiga architectura: como ainda se póde ver pela planta tirada por Duarte d´Armas [última imagem]”, relatou, em 1838, na obra sobre o 'Palácio de Sintra, Mosteiro da Nossa Senhora da Pena e Castelo de Sintra’.

 

Uma curiosidade: é também no dia 1 de novembro que se pede ‘Pão-por Deus’.  Neste dia, as crianças saem à rua e vão de porta em porta pedir ‘Pão-por-Deus’ – em troca, recebem pão, frutos secos, romãs, doces e há atém quem dê ‘umas moedinhas’. Em algumas zonas do país, este dia é conhecido como ‘Dia do Bolinho’. Em 1756, um ano após o terramoto, a tradição manteve-se em Lisboa e todos saíram à rua para pedir ‘Pão-por-Deus’.