No Paço de Sintra com Joaquim Caetano: uma História escondida sob camadas do Tempo ou o gosto através dos tempos
A pintura a fresco e, de um modo mais abrangente, aquilo a que podemos chamar "as artes da cal", fazem parte integrante da arquitetura onde estão inseridas, uma vez que foram concebidas para determinado espaço e a sua leitura está com ele intimamente ligada.
Se umas vezes, como nos espaços religiosos, a pintura tem funções devocionais e catéquicas, noutras situações e noutros locais é, sobretudo, expressão de um gosto ou de uma moda, seguindo as correntes e gramáticas decorativas da época em que é executada.
É esta segunda expressão que pode ser observada no Palácio Nacional de Sintra, onde vamos encontrar vários tipos de decoração. Uma de nítida influência italiana nos frisos de cosmatescos que emolduram as pombas da decoração da capela, outra, no pátio central, onde a pintura procura recrear a leitura de algumas fachadas renascentistas com silhares em ponta de diamante, como a da Casa do Bicos e dos Palazzi dei Diamanti em Verona e Ferrara.
Também o gosto pela decoração mudejar manifesta-se não só nos revestimentos azulejares, mas também na pintura a fresco. Em escavações realizadas em 2001 foram descobertos vários fragmentos de colunas com ornamentação mudejar.
Temos ainda no corredor das Galés um revestimento a imitar a estereotomia da pedra, correspondente ao que designar por "gosto pela arquitetura erudita", que tem a sua génese no modo como eram tratadas as juntas dos silhares nas igrejas românicas e que é, a partir do século XVI, mimetizado por rebocos que transmitem o mesmo tipo de leitura.
Sobre o programa
O ciclo de palestras 'Encontros nos Palácio Nacionais' traz ao Palácio Nacional de Sintra e ao Palácio Nacional de Queluz alguns dos maiores especialistas em áreas como História, Museologia, Arquitetura, Ciência e Arte. Trata-se de uma oportunidade de o grande público ver respondidas questões desafiantes e ter contacto com quem mais sabe sobre temas relacionados com os Palácios, Sintra e a sua História.
Cada 'Encontro' termina com um Cocktail após a palestra, para convívio e discussão informal de ideias e de experiências.
- Duração: Palestra: 60-75 minutos / Cocktail: 45-60 minutos
Sobre o autor
Joaquim Caetano é conservador-restaurador de pintura mural, formado no antigo Instituto José de Figueiredo e ICCROM de Roma (1985). Autor de diversos livros, artigos e comunicações sobre o assunto, tem também desenvolvido atividade pedagógica no âmbito da pintura mural portuguesa e do seu restauro.
Integrou a equipa de restauro, como responsável local pelo grupo estrangeiro, no projeto UNESCO/Japan Trust Fund para o restauro do Mosteiro de Probota na Roménia.
É doutorado em História (Arte, Património e Restauro) pelo IHA da Faculdade de Letras de Lisboa com o tema Motivos decorativos de estampilha na pintura a fresco dos séculos XV e XVI no Norte de Portugal. Relações entre pintura mural e de cavalete. Desenvolve investigação de Pós-doutoramento na mesma instituição sob o tema O papel decorativo da pintura a fresco dos séculos XV e XVI em Portugal. Relações com os tecidos lavrados.