Na Real Quinta de Queluz com Iskrena Yordanova: David Perez, a corte, as serenatas e o fascinante património musical do séc. XVIII
Como se recupera um importante manuscrito musical que ficou esquecido e jacente no acervo da Biblioteca de Ajuda durante 250 anos? Ao contrário das outras artes, a música precisa do ato da execução para ser apreciada. Através de um trabalho sistemático de recuperação das Serenatas escritas para o Palácio de Queluz, o Centro de Estudos Musicais Setecentistas de Portugal faz conhecer ao público contemporâneo 'L’Isola disabitata' (Queluz, 1767) de David Perez num projeto de investigação que incluiu o estudo do contexto de execução e criação desta obra, a sua edição crítica, e também a estreia mundial moderna pela orquestra barroca Divino Sospiro. Neste encontro, que reúne o público com Iskrena Yordanova, musicóloga, e António Nunes Pereira, diretor do Palácio Nacional de Queluz, será desvendado o processo de recuperação e valorização deste fascinante repertório.
David Perez (1711-1778) foi um dos compositores mais relevantes no panorama musical europeu do séc. XVIII. Nasceu e estudou em Nápoles, um dos principais centros de excelência e inovação de criação musical naquela época. A sua primeira ópera foi estreada em 1735 no Palácio Real de Nápoles. Depois de uma breve permanência na cidade de Palermo como maestro da Cappella Palatina, em 1752, aceitou o convite de D. José I de Portugal para ocupar o prestigiante cargo de “Compositor da Real Câmara e Mestre das Suas Altezas Reais”. Passou, assim, a dirigir a vida musical da Corte portuguesa, permanecendo em Lisboa até à sua morte, em 1778. Ao longo da sua vida compôs música sacra de grande relevância, obras instrumentais, peças didáticas e mais de 44 obras dramáticas, das quais 14 foram escritas em Portugal. Duas das mais notáveis, 'Alessandro nell’Indie' e 'La Clemenza di Tito' (1755), foram compostas para a Ópera do Tejo, que ruiu em durante o Terramoto. A sua obra influenciou a maioria dos compositores portugueses da época, muitos dos quais foram seus discípulos diretos. O legado de Perez representa, assim, uma parte importante da história da música portuguesa.
Sobre a oradora
Iskrena Yordanova é formada em violino e música de câmara pela Academia Superior de Música de Sofia (Bulgária), tendo posteriormente aperfeiçoado a técnica e o repertório de violino barroco. É concertino e membro-fundador da orquestra barroca portuguesa Divino Sospiro desde 2004, ensemble com o qual se apresenta regularmente em concertos e festivais por todo o mundo e tem gravado para as editoras internacionais Decca, Nichion, Dynamic, Arcana (Outhere), Pan Classics e Glossa.
É doutorada em musicologia pela Universidade de Évora, com uma tese sobre a oratória em Portugal no séc. XVIII. No campo da investigação, tem feito pesquisa e edição de repertório musical português e italiano do séc. XVIII, incidindo particularmente nas obras de Domenico Scarlatti, Pedro António Avondano, David Perez, Niccolò Jommelli, João Cordeiro da Silva e João de Sousa Carvalho.
Desde 2014, é diretora científica de Divino Sospiro – Centro de Estudos Musicais Setecentistas de Portugal. Nesta qualidade desenvolve vários projetos de recuperação de património musical do séc. XVIII, como das Serenatas escritas para o Palácio de Queluz, e organizou 9 colóquios internacionais de musicologia, com grande êxito e participação internacional.
Desde 2018, é responsável científica pela série 'Cadernos de Queluz' da editora austríaca Hollitzer Verlag, de que foram publicados os seguintes volumes: 'The Serenata and the Festa teatrale in 18th century Europe' (Iskrena Yordanova e Paologiovanni Maione, 2018), 'Diplomacy and Aristocracy as patrons of music and theatre in Europe of the Ancien Régime' (Iskrena Yordanova e Francesco Cotticelli, 2019), 'Theatre Spaces in 18-century Europe' (Iskrena Yordanova, Giuseppina Raggi e Maria Ida Biggi, 2020), 'Padron mio colendissimo…: Letters about Music and Stage in the 18th Century' (Iskrena Yordanova e Cristina Fernandes, 2021).
Sobre o programa
O ciclo de palestras 'Encontros nos Palácio Nacionais' traz ao Palácio Nacional de Sintra e ao Palácio Nacional de Queluz alguns dos maiores especialistas em áreas como História, Museologia, Arquitetura, Ciência e Arte. Trata-se de uma oportunidade de o grande público ver respondidas questões desafiantes e ter contacto com quem mais sabe sobre temas relacionados com os Palácios, Sintra e a sua História.
ATUALIZAÇÃO: Devido à situação de elevado risco de contágio por Covid-19, o Colares de Honra não irá realizar-se, mantendo-se um momento de convívio e discussão informal de ideias e de experiências depois da palestra.
- Duração: Palestra: 60-75 minutos / Convívio: 45-60 minutos