História do Parque e Palácio Nacional da Pena
A história deste lugar mágico começa no século XII, altura em que ali existia uma capela dedicada a Nossa Senhora da Pena. Neste mesmo local, D. Manuel I mandou edificar um Mosteiro, o Real Mosteiro de Nossa Senhora da Pena, posteriormente entregue à Ordem de São Jerónimo.
O terramoto que atingiu Lisboa em 1755 deixou o mosteiro praticamente em ruínas. Mesmo degradado, o Mosteiro manteve a sua atividade, mas, passados quase cem anos, em 1834 quando se deu a extinção das ordens religiosas em Portugal, foi deixado ao abandono. O Parque da Pena ainda conserva recantos que remetem para esta época, como por exemplo a Gruta do Monge, local onde os monges praticavam o recolhimento.
Dois anos mais tarde, em 1836, a rainha D. Maria II casa-se com Fernando de Saxe-Coburgo e Gotha, um príncipe da Casa de Saxe-Coburgo e Gotha, sobrinho do duque reinante de Coburgo Ernesto I e do rei Leopoldo I da Bélgica. De acordo com o contrato nupcial, D. Fernando recebeu a dignidade de rei-consorte.
D. Fernando II foi um dos homens mais cultos de Portugal, durante o século XIX. Poliglota, dominava as línguas alemã, húngara, francesa, inglesa, espanhola, italiana e, claro, a portuguesa. Na infância, o ainda então Duque de Saxe-Coburgo e Gotha teve uma cuidada educação onde as artes, em particular a música e o desenho, desempenharam um papel fundamental. Durante toda a sua vida teve uma grande ligação às artes, enquanto autor, colecionador e mecenas, tendo ficado conhecido como Rei-Artista.
Pouco depois da sua chegada a Portugal apaixonou-se por Sintra, e adquiriu, com a sua fortuna pessoal, o Mosteiro de São Jerónimo, em ruínas, bem como toda a mata que o envolvia. Este mosteiro quinhentista exerceu sobre o rei um enorme fascínio, radicado na sua educação germânica e no imaginário romântico da época que a serra, e a valorização estética das ruínas, atraíam. O projeto inicial era, apenas, a recuperação do edifício para residência de verão da família real, mas o seu entusiasmo levou-o a decidir-se pela construção de um palácio, prolongando a construção pré-existente, sob a direção do Barão Wilhelm Ludwig von Eschwege, mineralogista e engenheiro de minas então residente em Portugal. O edifício é circundado por outras estruturas arquitetónicas que apelam ao imaginário medieval com os caminhos de ronda, torres de vigia, um túnel de acesso e até uma ponte levadiça. O palácio incorpora referências arquitetónicas de influência manuelina e mourisca que produzem um surpreendente cenário “das mil e uma noites”
No parque, traduzindo a expressão da estética romântica e aliando a busca do exotismo à impetuosidade da natureza, o rei desenhou caminhos sinuosos que conduzem o visitante à descoberta de locais de referência ou de onde se desfrutam vistas notáveis: a Cruz Alta, o Templo das Colunas, o Alto de Sta. Catarina, a Gruta do Monge, a Fonte dos Passarinhos, a Feteira da Rainha e o Vale dos Lagos. Ao longo dos caminhos, com o seu interesse colecionista, plantou espécies florestais nativas de todos os continentes, que fazem com que os 85 hectares do Parque da Pena se traduzam no mais importante arboreto existente em Portugal. Destacam-se as coleções de camélias asiáticas, introduzidas por D. Fernando II no Parque da Pena na década de 1840 e que se tornaram o ex-libris do inverno sintrense sendo motivo de bailes e festas. O exótico arvoredo enquadra pavilhões e pequenas edificações, compondo um cenário de inigualável beleza natural mas, também, de grande relevância histórica e patrimonial.
Após a morte de D. Maria II, em 1853, D. Fernando volta a casar com Elise Hensler, cantora de ópera e Condessa d´Edla. Juntos construíram o Chalet da Condessa d’Edla, situado no Parque da Pena. É uma construção de dois pisos com forte carga cénica, de inspiração alpina, que mantinha uma expressiva relação visual com o Palácio.
A segunda fase de ocupação da Pena pela Família Real é marcada presença do rei D. Carlos I (1863-1908) e da rainha D. Amélia de Orleães (1865-1951). Estes monarcas irão habitar o palácio durante parte da época de verão, antes de passarem também algum tempo na Cidadela de Cascais. O seu filho, D. Manuel II, também passou largas temporadas neste palácio, onde manteve os seus antigos aposentos de infante no piso nobre do Torreão, ainda que utilizando os antigos quartos do pai no piso inferior do claustro para funções oficiais.
É no Palácio da Pena que D. Amélia é surpreendida pela Proclamação da República, a 5 de outubro de 1910, de onde sai para Mafra para se juntar à sogra, D. Maria Pia, e ao filho, D. Manuel, indo embarcar na Ericeira no iate real D. Amélia rumo a Gibraltar.
O Palácio da Pena foi classificado como Monumento Nacional em 1910 e é o mais importante polo da Paisagem Cultural de Sintra, classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade desde 1995.
No ano 2000, o Parque da Pena passou a ser administrado pela Parques de Sintra, que, em 2007, recebeu também a gestão do palácio. Em 2013 o Palácio Nacional da Pena passou a integrar a Rede de Residências Reais Europeias.
Ao longo dos anos, a Parques de Sintra tem realizado um trabalho constante de conservação, restauro e revalorização do vasto património que o Parque e Palácio da Pena englobam, destacando-se o projeto de reconstrução do Chalet da Condessa d’Edla – distinguido, em 2013, com o Prémio União Europeia para o Património Cultural – Europa Nostra, na categoria de Conservação – e o restauro integral do Salão Nobre do Palácio da Pena.
O Parque e Palácio Nacional da Pena faz parte da "Rota Europeia de Jardins Históricos", que integra as "Rotas Culturais do Conselho da Europa" desde 2020.
O programa Rotas Culturais, lançado pelo Conselho da Europa em 1987, demonstra, através de uma viagem no espaço e no tempo, a forma como o património dos diferentes países e culturas da Europa representa um património cultural partilhado. Os Rotas Culturais colocam em prática os valores fundamentais do Conselho da Europa: os direitos humanos, a democracia cultural, a diversidade e identidade cultural, o diálogo, o intercâmbio mútuo e o enriquecimento além fronteiras e séculos. Em 2020, existem 40 Rotas Culturais do Conselho da Europa certificadas (www.coe.int/routes).