História do Palácio Nacional e Jardins de Queluz
Em 1654, D. João IV cria a Casa do Infantado, que inclui a Casa de Campo de Queluz, mandada construir pelo primeiro Marquês de Castelo Rodrigo, D. Cristóvão de Moura, e confiscada após a Restauração da Independência, em 1640. Nessa altura, o local é doado ao infante D. Pedro, primeiro senhor da Casa do Infantado e futuro D. Pedro II.
Em 1747, o Infante D. Pedro, terceiro Senhor da Casa do Infantado e futuro rei D. Pedro III (por casamento com D. Maria I) encarrega o arquiteto Mateus de Vicente de Oliveira de ampliar o chamado “Paço Velho”. Anos mais tarde, em 1760, o anúncio do casamento de D. Pedro com a herdeira do trono, a princesa D. Maria, motiva obras mais profundas, que visam conferir à propriedade a envergadura de Palácio Real. Nesta fase, os trabalhos ficam a cargo do arquiteto e ourives Jean-Baptiste Robillion. Alheio à política e às intrigas da coroa e possuidor de uma considerável fortuna e de hábitos requintados, D Pedro III dedica a sua atenção a este local, transformando-o num espaço de lazer e entretenimento da Família Real e recheando-o de salas de aparato, como a Sala do Trono ou a Sala dos Embaixadores. Nos jardins, a decoração é marcada por diversos grupos escultóricos que evocam a mitologia clássica, de que se destacam as estátuas em chumbo do atelier londrino de John Cheere.
Após o incêndio da Real Barraca da Ajuda, em 1794, onde a Família Real vivia em permanência desde o terramoto de 1755, o Palácio de Queluz torna-se residência oficial da rainha D. Maria I – que entretanto enviuvara – e, posteriormente, dos príncipes regentes D. João VI e D. Carlota Joaquina, o que exigiu a adaptação de alguns espaços interiores e a construção de novos edifícios para acomodar a Corte, a Guarda e a criadagem. Queluz passou, assim, a ser o local onde a Corte ia para desfrutar de momentos de lazer, assistir a serenatas, cavalhadas e espetáculos de fogo-preso.
O palácio é habitado em permanência até à partida da Família Real para o Brasil, aquando das invasões francesas, em 1807, um dia antes da entrada das tropas napoleónicas em Lisboa, sob o comando do general Junot. Conta-se que, neste ano, o próprio Junot visita o palácio, tendo chegado a alimentar o sonho de ali vir a instalar Napoleão Bonaparte.
Em 1821, D. João VI regressa a Portugal, mas o palácio só volta a ser habitado, em regime de semiexílio, pela rainha D. Carlota Joaquina, acusada de conspirar contra o marido. Todavia, os tempos áureos das alegres celebrações não mais voltariam a animar aquele espaço.
A geração seguinte, marcada pela Guerra Civil que opôs os irmãos D. Miguel e D. Pedro IV de Portugal e primeiro Imperador do Brasil, encerrou a vivência real do Palácio de Queluz. D. Miguel, defensor da causa absolutista, habitou o palácio, enquanto rei e durante o período sangrento da guerra, na qual confrontou o seu irmão D. Pedro IV, que lutou para impor o liberal constitucionalismo. D. Pedro vence a guerra, mas, por se encontrar doente, abdica do trono de Portugal a favor da sua jovem filha, D. Maria II. É no Palácio de Queluz, no quarto D. Quixote, onde nasceu, que D. Pedro IV acaba por morrer.
Anos mais tarde, em 1910, Palácio Nacional de Queluz foi classificado como Monumento Nacional. A partir de 1957, o Pavilhão D. Maria I, ala nascente deste palácio, passou a ter funções de residência dos Chefes de Estado estrangeiros em visita oficial a Portugal.
Em 1979, a Escola Portuguesa de Arte Equestre, com a finalidade de promover o ensino, a prática e a divulgação da Arte Equestre tradicional portuguesa, é sediada nos jardins do palácio.
A Parques de Sintra assume a gestão do monumento em 2012 e, um ano mais tarde, este passa a integrar a Rede de Residências Reais Europeias.
Atualmente, o Palácio Nacional de Queluz e os seus jardins históricos constituem um dos exemplos mais notáveis da ligação harmoniosa entre paisagem e arquitetura palaciana em Portugal, que importa preservar. A Parques de Sintra tem promovido diversas campanhas de restauro e de requalificação deste património, das quais se destacam as intervenções nas fachadas, que devolveram ao palácio a cor azul original, e a reabilitação do Jardim Botânico, projeto que venceu, em 2018, de forma inédita, dois Prémios da União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra: categoria Conservação e o Prémio da Escolha do Público.
A Escola Portuguesa de Arte Equestre permanece sediada nos jardins do palácio. Para promover o estudo desta arte e a formação regular de cavaleiros, a Parques de Sintra criou, em 2015, no Palácio Nacional de Queluz, a única biblioteca nacional dedicada exclusivamente à Arte Equestre. A Biblioteca de Arte Equestre D. Diogo de Bragança, VIII Marquês de Marialva dispõe de 1.400 títulos, alguns dos quais são exemplares raros.
O Palácio Nacional e Jardins de Queluz faz parte da "Rota Europeia de Jardins Históricos", que integra as "Rotas Culturais do Conselho da Europa" desde 2020.
O programa Rotas Culturais, lançado pelo Conselho da Europa em 1987, demonstra, através de uma viagem no espaço e no tempo, a forma como o património dos diferentes países e culturas da Europa representa um património cultural partilhado. Os Rotas Culturais colocam em prática os valores fundamentais do Conselho da Europa: os direitos humanos, a democracia cultural, a diversidade e identidade cultural, o diálogo, o intercâmbio mútuo e o enriquecimento além fronteiras e séculos. Em 2020, existem 40 Rotas Culturais do Conselho da Europa certificadas (www.coe.int/routes).