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Raimundo José Pinto (1807-1859), ourives e agente artístico do rei D. Fernando II

Salva de pé alto, prata dourada, Lisboa, 1548

Acesso

Gratuito

Monumento

Palácio Nacional da Pena

Tipologia

Artigo científico

Temas

Museologia, ourivesaria, mercado de arte, colecionismo

Autoria

Hugo Xavier, Conservador do Palácio Nacional da Pena

Em 1807, ano marcado pela primeira invasão francesa a Portugal e pela consequente partida da família real para o Brasil, nascia a três de fevereiro, na freguesia de Santa Justa, Raimundo José Pinto, com pais moradores na Rua Bela da Rainha (1), também conhecida por Rua da Prata, artéria a que ficará mais tarde ligado em termos profissionais. Mau grado o período conturbado da sua infância e juventude, decorrente das Guerras Peninsular (1807-1814) e Civil (1832-1834), Raimundo tornou-se, talvez por tradição familiar, mestre do ofício de ourives do ouro, com loja no seu arruamento, tendo apresentado a 17 de abril de 1833 o registo da sua marca (R. I. P.) na secretaria do Senado da Câmara de Lisboa (2).

 

As informações até ao momento apuradas levam a crer que pouco terá trabalhado enquanto executante de peças em ouro, afirmando-se como um negociante cuja atividade comercial se estendia também à prata e, com o passar dos anos, a outro tipo de artigos. Cedo conquistou o favor da Casa Real como dá conta a “Memoria dos objectos de prata recebidos pelo ourives Raymundo Joze Pinto na Real Mantearia do Paço das Necessidades” que refere terem-lhe sido entregues em 1835 diferentes peças antigas de cariz utilitário (a peso) com o objetivo de fornecer “cem talheres ao gosto Francez, duas leiteiras grandes, seis rechós com seus forros e cloches de feitio redondo e dois ditos ovados, sem cloches” (3). Tal enquadra-se numa estratégia de atualização estética da corte da jovem D. Maria II cujo curto exílio em Paris (1831-1833) tivera decerto influência, levando à execução de mais peças, nomeadamente, “seis bandejas grandes para o Real serviço” fornecidas em 1839 contra a entrega de outro lote de pratas antigas. De acordo com o mesmo documento, o recibo relativo a essa encomenda foi passado “debaixo da firma Pinto & Souza, por ser a actual caza do sobredito ourives”.

 

Referenciada, portanto, em 1839, a casa Pinto & Sousa terá resultado da sociedade que Raimundo José Pinto fez com um ourives da prata seu contemporâneo, Estevão de Sousa, tornado mais conhecido após a morte do sócio ao dar continuidade, em nome individual, ao negócio por ambos fundado. Estabeleceram-se na Baixa de Lisboa, nos números 1 e 2 da Rua da Prata, como proprietários de uma “Loja de Ourives” dedicada à compra e venda de “Prata, Ouro e Pedras Preciosas”, conforme indicado nos cabeçalhos das suas faturas.

 

  • Cabeçalho de uma conta corrente da Casa Pinto & Sousa em nome da Real Mantearia do Paço das Necessidades, 1840-1841. ANTT, cx. 6530, doc. s. n.

Cabeçalho de uma conta corrente da Casa Pinto & Sousa

A Real Mantearia do Palácio das Necessidades, que já era cliente de Raimundo, passou a recorrer a esta casa, sendo frequentes as contas correntes com extensas listas relativas à execução de peças novas, concertos ou reparos vários nas antigas, entre outras tarefas como o transporte da prata utlizada no Palácio de Belém por ocasião dos diferentes bailes aí promovidos por D. Maria II em 1840 (4).

 

Paralelamente a este tipo de negócios, Raimundo José Pinto dedicou-se também ao comércio de peças de ourivesaria antiga, tirando partido não só da falta de liquidez das famílias da aristocracia nacional, como da extinção dos conventos masculinos (1834), o que colocou no mercado quantidade assinalável de objetos. Logo em 1836 surge no livro de registos da Casa da Moeda como comprador de um lote de alfaias litúrgicas, entre as quais um vaso de sacrário proveniente do Convento de Cristo de Tomar e uma âmbula grande de prata lavrada e dourada, do Convento de São Francisco de Paula, peça que se encontrava então registada como possuidora de interesse para integrar os museus tardiamente criados pelo Liberalismo. Tal não impediu a instituição de proceder à sua venda, tendo outras, com idêntica classificação, sido fundidas para amoedamento entre 1836 e 1843 (5).

 

Apesar de muito se ter perdido nos fornos da Casa da Moeda, vários objetos lograram ser preservados com destaque para a Custódia de Belém, integrada com outras alfaias litúrgicas nos bens da Coroa, por intervenção de D. Fernando II, em 1845. Pouco antes de isso suceder, chegou a ser ponderado o seu restauro, dadas as lacunas existentes nos esmaltes e a ausência de alguns remates, levando a Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda a solicitar orçamentos a vários ourives, entre os quais Raimundo José Pinto, o único de resto a dar resposta:

“Quanto a do extinto Mosteiro de Bellem não he pofsivel fazerce orcamento algum atendendo ao estado do objecto e as defeculdade de hum trabalho que he precizo estudar e conduzerçe de maneira que nunca pofsa comprometer a orgenalidade e primor de hum tal cheffe d’obra com tudo he pofsivel o restauro completo porem deve ser dispendioso. Entodo o cazo pode ser limpa e armada de novo conservando/lhe as faltas de esmalte visto ser o que appresenta os maiores enconveneentes (6).”

 

Como já foi notado, este parecer demonstra uma atitude cautelosa e minimalista, muito embora o ourives não afaste a hipótese de um “restauro completo” que adverte ser oneroso (7). A fotografia da custódia tirada em 1866 por Charles Thompson no Palácio das Necessidades revela a falta de alguns elementos e até o destacamento de outros, dando a conhecer não ter sido feita até à data qualquer intervenção de maior, o que deverá ter ocorrido entre 1867, quando foi cedida para a Exposição Universal de Paris, ou 1882, quando figurou na Exposição de Arte Ornamental. Foi igualmente captada por Carlos Relvas para o Album de Phototypias desta última exposição, onde surge já sem a falta de elementos dominantes (8).

 

  • Custódia de Belém, prova de albumina de Charles Thompson, 1866. © Victoria & Albert Museum, 58458

Custódia de Belém, prova de albumina de Charles Thompson, 1866

No ano em que efetuou o parecer acima citado (1845), Raimundo José Pinto fez registar em conjunto com o João Diniz Collares (9) uma patente relativa a um “novo apparelho galvanico para dourar, pratear, cobrear e platinisar metaes” (10), mostrando ter apostado em inovações tecnológicas inerentes à sua área de atividade. Continuou a negociar com alfaias litúrgicas e demais objetos de ourivesaria antiga, tendo sido um comprador ativo numa das grandes almoedas daquele tempo, relativa aos bens que D. Carlota Joaquina (1775-1830) conservava no seu Palácio do Ramalhão, em Sintra. No decurso do complexo processo da herança, o património pessoal da falecida rainha de Portugal e imperatriz do Brasil foi primeiro inventariado e avaliado por conhecedores em cada área (pintura, mobiliário, cerâmica, ourivesaria, joalharia, etc.), e só depois em parte transportado para o Palácio da Bemposta, em Lisboa, onde foi leiloado.

 

A 20 de dezembro de 1847, Raimundo que interviera no processo de avaliação das pratas (11), pagou 3.020$000 réis por dois lotes arrematados no leilão (12). Correspondia o primeiro a uma custódia em forma de cruz assente numa base em mármore com pés em forma de garra, tendo nos braços da cruz três esferas em pedra cornalina branca, de acordo com a descrição então efetuada que informa ainda ser o viril circundado com serafins e pedraria, nomeadamente, “cincoenta e um diamantes brilhantes de diversos tamanhos”. Foi o segundo descrito como um “diadema” com “472 diamantes brilhantes miudos e 22 safiras de boa cor” estando decorado com estrelas e as iniciais AM (Avé Maria), o que indica ter ornado uma imagem da Virgem Maria (era na realidade um resplendor), pertencendo com muita probabilidade à capela palatina do Ramalhão, tal como a custódia. Seriam peças ao gosto neoclássico, tal como a banqueta de altar em prata arrematada no leilão por um rico merceeiro de Lisboa e vendida em 1857 a um negociante açoriano que encarregou a Casa Pinto & Sousa de proceder à substituição das armas da rainha presentes em todas as peças por outros ornatos. Conserva-se hoje no Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada (13).

 

A custódia e o resplendor foram as compras de maior peso que Raimundo José Pinto fez naquela venda que se prolongou por vários meses, e onde acabou por arrematar também alguns móveis e objetos decorativos, para além de uma dezena de quadros, entre os quais, uma “Macacaria” classificada como cópia de David Teniers e uma  paisagem atribuída à escola de Paul Brill (14). Considerando apenas o núcleo de pintura, foram aquisições modestas se as compararmos às efetuadas pela Academia de Belas Artes de Lisboa (15) e por particulares como António Borges da Câmara, mas revelam o interesse do ourives por esse domínio, como refere Celina Bastos na apreciação que fez do leilão. Na realidade, e como avançou esta investigadora, viria a formar “uma vasta coleção de pintura, que incluía primitivos portugueses, essencialmente proveniente de conventos extintos e das galerias aristocráticas, como a do marquês de Borba, desaparecidas ao longo de Oitocentos” (16).

 

Logo em 1851, Raimundo José Pinto figurou entre os emprestadores da Exposição Philantropica com nove pinturas, na maioria de temática religiosa com atribuições sonantes – e que devem ser encaradas com reserva – a mestres da pintura antiga como Velázquez ou Zurbarán (17). Decorridos sete anos, na segunda edição deste certame, foram já 43 as obras cedidas pelo ourives, num crescimento exponencial onde se assinalavam outros mestres como Ribera, Brueghel e até Bosch, colocando o ourives a par dos mais expressivos emprestadores, como o conde de Farrobo ou o duque de Palmela (18). Consolidava assim a sua reputação enquanto homem de gosto, o que se revelava útil em termos comerciais pois não comprava apenas pinturas para si, dedicando-se também à sua venda.

 

O negócio central de Raimundo continuou a ser o comércio de pratas e joias, a que se estendiam por vezes as avaliações, como sucedeu em 1851 com as alfaias litúrgicas legadas pela princesa do Brasil, D. Maria Francisca Benedita (1746-1829), ao Hospital dos Inválidos Militares de Runa por si fundado (19). Em poucos anos, a Casa Pinto & Sousa afirmou-se como o principal fornecedor no seu género junto coroa portuguesa, não só via Real Mantearia, assegurando a execução e manutenção das pratas de serviço, mas também através de compras e encomendas diretas da família real, nomeadamente, de D. Maria II, em joias, pratas e demais objetos.

 

Não surpreende assim ter conquistado também a preferência do seu consorte, D. Fernando II, como se verifica num inventário por este redigido em 1866, documento conservado no arquivo do Palácio Nacional da Pena (20). Na realidade, e atendendo apenas ao primeiro caderno daquele manuscrito, intitulado “Objectos de prata, ouro, etc.”, das 160 entradas elencadas, 60 surgem associadas ao nosso negociante, o que revela bem a sua importância. Como veremos, a sua atividade extravasou em muito a compra e venda de pratas e joias estendendo-se a quase todos os domínios das artes plásticas e decorativas, sendo uma figura marcante no âmbito da formação das coleções de D. Fernando II.

 

UM COFRE DESSACRALIZADO

 

Entre as compras efetuadas por D. Maria II à casa Pinto & Sousa assume particular significado a de um cofre em prata dourada, tendo sido possível identificar na Torre do Tombo a respetiva conta que revela tratar-se de uma peça antiga, então enriquecida com 49 ametistas e 53 turquesas (21).

 

  • Conta relativa ao cofre em prata dourada com ametistas e turquesas, 1853. ANTT, Casa Real, cx. 4385, doc. 40

Conta relativa ao cofre em prata dourada com ametistas e turquesas, 1853

Como está expresso no cabeçalho, a conta foi lançada a 14 de novembro de 1853, um dia antes da trágica morte da rainha, na sequência do parto do seu 11º filho, pelo que não chegou a usufruir do mesmo, no caso de o ter destinado para si, não sendo de excluir a hipótese de uma oferta (não concretizada) ao marido ou a outrem.

 

O precoce desaparecimento de D. Maria II e a consequente reorganização da Casa Real explica que a despesa relativa ao cofre, no valor de 452$700 réis, só tenha sido liquidada seis meses depois, na regência de D. Fernando II dada a menoridade do filho mais velho, futuro D. Pedro V. Passou então a pertencer ao rei que o incluiu no seu inventário, referindo-se-lhe como uma “Belissima e muito estimável peça de grande efeito” (n.º 41, I caderno), chegando também a ser selecionado para a campanha fotográfica que Charles Thompson realizou em 1866 para o South Kensignton Museum, atual Victoria & Albert Museum.

 

  • Cofre, prova de albumina de Charles Thompson, 1866. © Victoria & Albert Museum, 58515

Cofre, prova de albumina de Charles Thompson, 1866

Identifica-se ainda em fotografias dos interiores do Palácio das Necessidades, nomeadamente, no gabinete de trabalho de D. Fernando (22) e, anos depois, no boudoir da sua segunda mulher (23), a condessa d’Edla, que ficou com o cofre nas partilhas realizadas após a morte do rei (24). Alienado em data incerta pela própria (25), surge em 1952 na coleção de Pedro Rodrigues da Costa (26), e reapareceu em 2011 numa leiloeira nacional, sendo desconhecida a sua proveniência (27).

 

  • Cofre, prata dourada, ametistas, turquesas e esmaltes, Portugal, séc. XVII-XIX. Imagem reproduzida no catálogo do leilão n.º 24 da Veritas, Lisboa, 10 de outubro de 2013

Cofre, prata dourada, ametistas, turquesas e esmaltes, Portugal, séc. XVII-XIX

Correspondeu originalmente a um cofre eucarístico, como atesta a inscrição latina gravada na base, destinando-se a conter a hóstia consagrada na missa de sexta-feira santa.

 

  • Inscrição gravada na base do cofre. Imagem reproduzida no catálogo do leilão n.º 24 da Veritas, Lisboa, 10 de outubro de 2013

Inscrição gravada na base do cofre

De forma paralelepipédica, assente sobre pés em forma de cabeças de anjos aladas, e com tampa facetada, terá sido executado no século XVII para alguma igreja ou casa religiosa. A sobriedade da sua estrutura foi animada com a presença de placas esmaltadas em dois tons de azul, a que acresceram as ametistas e turquesas, num “restauro” para utilizar a expressão do documento, com o intuito de aumentar o seu valor estético e intrínseco. Dessacralizado, o cofre passou a servir de precioso objeto decorativo ou mesmo de guarda-joias, como sucedeu a outros desta tipologia, nomeadamente, com um conservado no Palácio Nacional de Ajuda que terá pertencido à rainha D. Maria Pia (28).

 

RELAÇÕES COMERCIAIS COM D. FERNANDO II

 

As compras efetuadas por D. Fernando II à Casa Pinto & Sousa estão bem documentadas através dos livros de caixa e demais documentos de despesa conservados no Arquivo Histórico da Casa de Bragança (29). Começo por destacar os artigos de joalharia, como um “Broxe de folhas de parra guarnecido com 100 brilhantes”, destinado a presentear a princesa de Joinville (1824-1898), irmã D. Maria II, em 1850, e que seguia a moda naturalista daquela época, tendo custado 550$000 réis (30). São, aliás, muitos os registos relativos à compra de joias para presentear familiares, amigos ou conhecidos, como sucedeu, em 1853, como um “anel d’ouro com 1 brilhante e 2 safiras 150$000” em cujo recibo o secretário do rei anotou ter sido “dado de presente a um homem de Mafra que lhe ofereceo um cavallo” (31). Surgem também com alguma frequência as despesas com “alfinetes para manta” (32) equivalentes aos alfinetes de gravata de uso masculino, em parte destinados ao próprio D. Fernando, grande acumulador deste tipo de peças, como dá a conhecer o inventário orfanológico realizado após a sua morte (33).

 

No âmbito da ourivesaria, há que distinguir os objetos adquiridos para o uso privado do rei dos que destinava, pela sua antiguidade e/ou valor artístico, à sua coleção. A título de exemplo, estão no primeiro caso um serviço de chá e café em prata, para além de uma palmatória em ágata com montagens em prata dourada, apresentados pela Casa Pinto & Sousa na Exposição da Indústria Nacional de 1849, e então comprados por 570$000 réis (34). Do segundo merece destaque um conjunto diversificado pratas – salvas, gomis ou pratos “de água às mãos” – adquirido em 1850 por 1.367$625 réis (35), e que, de acordo com o inventário elaborado pelo rei (1866), tinham pertencido à Casa Borba. Entre outros objetos incluídos naquele documento merece igualmente atenção uma salva quinhentista em prata dourada, “Comprada ao ourivez da casa Raymundo José Pinto”, sendo peça de “Notavel lavor portuguez e de bello desenho” no parecer do colecionador (n.º 16, I caderno). Integra desde 2016 o acervo do Palácio Nacional da Pena, adquirida no mercado de arte pela empresa responsável pela sua gestão, a Parques de Sintra – Monte da Lua.

 

  • Salva de pé alto, prata dourada, Lisboa (?), 1548 (dat.); pé adicionado no início do século XVIII. Palácio Nacional da Pena, inv. PNP3526. © Parques de Sintra-Monte da Lua/Foto de João Krull

Salva de pé alto, prata dourada, Lisboa, 1548
pé adicionado no início do século XVIII

No seu inventário, D. Fernando chega a referir-se à oficina que Raimundo detinha paralelamente à loja da Rua Prata, onde se executavam peças novas e efetuavam concertos ou arranjos por outros ourives e demais operários contratados para o efeito. A propósito de um “Pequeno peru de ouro esmaltado com boas pedras”, objeto considerado “bem curioso e provavelmente do tempo d’El rei D. Manuel”, refere ter sido “collocado sobre uma base, spatho e agatha, também com esmaltes e pedras”, adaptação “feita na officina de R. Pinto com bastante propriedade” (n.º 150, I caderno). Já em relação a um par de castiçais em prata, “obra tosca mas solida que parece portuguesa”, deixa o seguinte comentário, entrevendo desconfiança na informação fornecida pelo ourives: “R. Pinto dizia-os antigos porem tenho depois visto este modelo bastantes vezes reproduzido na officina do mencionado Pinto. Servem há muitos annos no meu toucador” (n.º 120 e 121, I caderno).

 

A esmagadora maioria dos recibos relativos às compras efetuadas pelo rei a este ourives surgem sob a designação do seu estabelecimento comercial, “Pinto & Souza”, tendo sido, todavia, identificado um em nome pessoal, assinado por Raimundo José Pinto.

 

  • Recibo assinado por Raimundo José Pinto, 1856. AHCB, Secretaria de D. Fernando II, documentos de despesa, NNG 3323, doc. 122. © Fundação da Casa de Bragança

Recibo assinado por Raimundo José Pinto, 1856

Diz respeito a “Tres retabolos de prata cinselados em baixo relevo”, um oval com “hum sacreficio” e dois circulares com “alguns genios”, talvez fundos de salvas ou bandejas antigas, não correspondendo aparentemente a nenhum dos que surge no inventário, registados como adquiridos ao mesmo ourives (n.º 54, 55, 106 e 132, I caderno). Custaram, em 1856, 202$500 réis, tendo sido incluído nesta conta “hum perfumador em forma de hurna, feito de metal dourado com o seu pedestal de mármore preto” (36).

 

A referência ao perfumador introduz-nos aos objetos que Raimundo negociava fora do âmbito da ourivesaria e da joalharia, tendo intermediado o rei na busca e aquisição de determinados espécimes que este desejava possuir, como se de um agente artístico se tratasse. Foi o que sucedeu em 1853, com diversas gravuras antigas adquiridas a dois particulares de Lisboa e no leilão do Palácio dos Duques de Cadaval, onde o nosso ourives arrematou 50 “quadros” (as gravuras estariam emolduradas) e um dente de marfim por 160$190 réis (37). Como revelam os registos de despesas, estas compras foram feitas pessoalmente por Raimundo José Pinto e depois faturadas ao rei através da Casa Pinto & Sousa, o mesmo sucedendo no ano seguinte com mais gravuras, 78 das quais vendidas por Joaquim Rafael (1783-1864) e outras tantas por Silva Oeirense (1797-1868), ambos professores de pintura da Academia de Belas Artes de Lisboa. Para além das gravuras ou estampas cujo interesse do rei estava em franca expansão, a mesma conta menciona outros objetos, nomeadamente, um “Grupo de figuras em marfim”, um “Desenho original de Sequeira” e ainda um “Quadro pintado representando animaes mortos e vivos” (natureza-morta), num total de 491$120 réis (38).

 

São vários os testemunhos relativos à negociação de pinturas para o rei, podendo citar-se, ainda em 1854, as sete telas e um cobre com cenas de caça, cavaleiros e batalhas, sem menção de autorias, adquiridas a um particular por 159$300, “importancia dos quadros vendidos aos Srs. Pinto & Sousa para Sua Magestade El-Rei o Senhor D. Fernando” (39). No domínio do mobiliário, é digna de ser assinalada a compra de uma imponente cadeira que pertenceu a Almeida Garrett (1799-1854), na sequência da dispersão dos bens que se seguiu à morte do celebrado poeta. Segundo fontes da época era por este designada de “cadeira abbacial” por ser proveniente do Mosteiro de São Bento de Lisboa (atual Assembleia da República), tendo sido mandada restaurar e adaptar pelo próprio (40), o que explica o espaldar alteado com cachaço recortado, para além do estofo em capitoné. Custou 96$000 réis conforme recibo passado em 1855 à Casa Pinto & Sousa, intermediária na compra (41), destinando-se ao Palácio da Pena até que, em 1876, foi oferecida pelo rei ao também escritor Francisco Gomes de Amorim (1827-1891), biógrafo e amigo próximo de Garrett (42). Encontra-se hoje no Museu Nacional do Teatro.

 

  • Cadeira de Almeida Garrett, Lisboa, Museu Nacional do Teatro e da Dança, inv. 217475 © Direção-Geral do Património Cultural/Arquivo de Documentação Fotográfica/Foto de José Pessoa

Cadeira de Almeida Garrett, Lisboa

Com a subida ao trono de D. Pedro V, Raimundo José Pinto continuou a desempenhar as funções de fornecedor da casa real, tendo-lhe sido confiada a tiara oferecida em 1858 pelo rei à sua mulher, D. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen (1837-1859). Cravejada com cerca de 4000 diamantes, esta peça deu à época que falar, não só pela sua riqueza como por ter ferido a cabeça da rainha durante a cerimónia de ratificação do casamento na igreja de S. Domingos, levando à sua substituição por uma grinalda de flores. O percurso da tiara após a morte prematura de D. Estefânia permaneceu longamente desconhecido e, como tal, objeto de várias teorias, até à identificação recente da sua estrutura descravada no acervo do Palácio Nacional da Ajuda (43). Ao mesmo ourives recorreu D. Pedro V para o presente oferecido a sua irmã, D. Maria Ana (1843-1884), por ocasião do seu casamento com Jorge da Saxónia, em 1859, um colar de diamantes “which came from the atelier of the late celebrated goldsmith, Raimundo Jose Pinto, the maker of the magnificent tiara worn by the present Queen on her marriage” no pormenorizado relato efetuado em maio daquele ano por um jornal inglês (44). A alusão ao “late celebrated goldsmith” revela que Raimundo terá falecido aos 52 anos de idade, não tendo sido possível apurar as causas do seu desaparecimento.

 

O negócio terá continuidade através do sócio, Estevão de Sousa, até então figura de segundo plano, mas que em 1861, no início do reinado de D. Luís, obteve a nomeação de fornecedor da casa real (45), estabelecendo-se em nome próprio no n.º 107 da Rua do Ouro. D. Fernando II refere-se a este ourives no seu inventário como o “sucessor de R. Pinto”, associando-o pelo menos a três peças: um cálice cinzelado pelo mestre Rafael Zacarias da Costa, qualificado colaborador nas oficinas daquela casa (n.º 116, I caderno), uma salva de prata do final do século XVII, “Peça de peso e merecimento” (n.º 70, I caderno), e uma joia quinhentista em forma de leão cravejada com diamantes (n.º 146, I caderno), adquirida em 1862 por 157$500 réis (46). Até ao fim da sua vida, o colecionador irá adquirir a este ourives diversos objetos, mas a dinâmica não voltará a ser a mesma quando comparada com a do tempo do diligente Raimundo José Pinto.

 

MARIA BALBINA, A VIÚVA DO OURIVES

 

A morte de Raimundo José Pinto, em 1859, deixou confortavelmente instalada a sua viúva, Maria Balbina dos Reis Pinto, com quem contraiu matrimónio em 1835 (47), e que nos surge nos registos de despesas de D. Fernando II como vendedora de um toucador e de um cofre em prata, oriundos do espólio do estabelecimento ou da coleção do marido, num total de 729$065 réis, em 1862 (48). Para avaliarmos a posição económica alcançada pelo ourives entre os comerciantes lisboetas do seu tempo, importa analisar as disposições testamentárias de Maria Balbina que levaram à dispersão do património móvel e imóvel reunido durante os anos em que aquele esteve ativo. Do casamento terão nascido cinco filhos, dois dos quais falecidos em crianças, antes da morte do pai, e os restantes três já adultos, num curto espaço de tempo, entre 1876-1877 (49). Esta tragédia familiar marcou fortemente a mãe e viúva que fez erguer no cemitério do Alto de São João um imponente jazigo, refugiando-se na religião católica e passando a viver alheada da vida real.

 

  • Jazigo de família de Raimundo José Pinto, 1876. Lisboa, Cemitério do Alto de São João. Foto de Henrique Correia Braga

Jazigo de família de Raimundo José Pinto, 1876

No testamento aberto após a sua morte, em 1890, num quarto andar de um dos prédios de rendimento de que era proprietária (50), designa por testamenteira a irmandade de Nossa Senhora da Saúde, com a incumbência de administrar todo o património, a permanecer indiviso, e aplicar a maioria das receitas em missas por alma dos seus “adorados filhos”. Entre outras, notam-se algumas disposições bizarras, como a relativa à moradia familiar localizada no n.º 123 da antiga Rua de Entremuros que deveria ficar encerrada “tal como está, pois assim a tenho conservado depois que meu marido faleceu, com tudo o que tiver dentro”, assim como com o pedido de transferência para o jazigo de vários objetos, entre os quais “todos os quadros de santos e santas e assumptos religiosos” (51).

 

Alguns familiares que Maria Balbina pretendia ver deserdados tentaram invalidar o documento, alegando incapacidade mental da testadora, mas chegaram a um acordo para a partilha dos bens com a irmandade que fez valer certas disposições da herança, nomeadamente, a criação de um asilo destinado a garantir assistência e conforto a cegos pobres (52). Inevitável foi a venda em hasta pública da maioria dos bens móveis, tendo sido organizados entre o final de 1893 e 1894, na casa da rua de Entremuros, dois leilões com catálogos editados em português e em francês (53), no intuito de atrair potenciais compradores internacionais.

 

O catálogo dos objetos de ourivesaria e joalharia elenca um total 277 lotes, sendo aparentemente parte de um conjunto mais amplo já que o testamento determinou o legado de muitas joias de uso pessoal às imagens de Nossa Senhora da Saúde e ao Senhor dos Passos da Graça. Entre as pratas regista-se uma mescla de peças antigas e mais recentes, nacionais e estrangeiras, sendo notória a repetição de certas tipologias, como candelabros ou conjuntos de talheres em prata, sugerindo terem integrado o espólio da casa Pinto & Sousa.

 

  • Folha de rosto do catálogo do leilão das pratas e joias de Maria Balbina dos Reis Pinto, 1893. Col. Particular

Folha de rosto do catálogo do leilão das pratas e joias de Maria Balbina dos Reis Pinto, 1893

Maior interesse oferece o catálogo da coleção de pintura, constituído por 260 lotes, na sua maioria atribuídos a mestres da pintura antiga ou a escolas europeias. As pormenorizadas descrições permitem identificar a localização atual de alguns, como o conjunto de quatro tábuas alusivas ao martírio dos santos Veríssimo, Máxima e Júlia (lotes 4 a 7), pertencentes ao Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada, e atribuídas ao pintor Garcia Fernandes que as terá executado (c. 1530) para o Mosteiro de Santos-o-Novo, em Lisboa (54). No início do século XIX integravam a coleção do marquês de Borba (55), tendo daí transitado para a de Raimundo Pinto e posteriormente para a do conde do Ameal, merecendo destaque a tábua do “Desembarque em Lisboa” por constituir um dos raros testemunhos visuais da cidade no início do século XVI.

 

  • Garcia Fernandes (atrib.), Santos Mártires, Veríssimo, Máxima e Júlia - Desembarque em Lisboa, óleo sobre madeira, c. 1530, Museu Carlos Machado, inv. MCM5681 © Direção Regional de Cultura/Museu Carlos Machado/Foto de A. Pacheco

Garcia Fernandes (atrib.), Santos Mártires, Veríssimo, Máxima e Júlia - Desembarque em Lisboa, óleo sobre madeira, c. 1530

Assinale-se de igual modo o S. Jerónimo assinado pelo flamengo Jan Sanders van Hemessen e datado de 1531 (lote 71), obra que passou também pela coleção do conde do Ameal e que pertence hoje ao Museu Nacional de Arte Antiga, reforçando o interesse do acervo reunido por Raimundo Pinto.

 

  • Jan Sanders van Hemessen, São Jerónimo, óleo sobre madeira, 1531. MNAA, inv. 1651 Pint © Direção-Geral do Património Cultural/Arquivo de Documentação Fotográfica/Foto de José Pessoa

an Sanders van Hemessen, São Jerónimo, óleo sobre madeira, 1531

De acordo com as descrições do catálogo, certas pinturas encontravam-se danificadas, o que estará em parte relacionado com um incidente ocorrido no jazigo do cemitério do Alto de S. João, “onde algumas télas soffreram deterioração pelo fogo contaminado por corôas que se incendiaram nos brandões que se achavam acêssos enquanto se dizia missa” revela uma fonte da época (56). Maria Balbina levou efetivamente para o tumulo algum do seu património, talvez mais por motivos sentimentais e religiosos, dentro da sensibilidade romântica da época, do que por avareza ou demência. A sua memória mantém-se hoje viva através da instituição de solidariedade social por si criada, a Fundação Lar de Cegos de Nossa Senhora da Saúde (57), ainda instalada no mesmo edifício em Campo de Ourique que lhe destinou no testamento. Aí se conserva um seu retrato, com traje austero de viúva adornado com algumas joias, entre as quais, ao peito, um medalhão com um busto masculino, presumível representação do marido.

 

  • Autor não identificado, Retrato de Maria Balbina dos Reis Pinto, c. 1860-70. Lisboa, Fundação Lar de Cegos de Nossa Senhora da Saúde. Fotos de Henrique Correia Braga

Autor não identificado, Retrato de Maria Balbina dos Reis Pinto, c. 1860-70

  • Pormenor do retrato de Maria Balbina dos Reis Pinto. Fundação Lar de Cegos de Nossa Senhora da Saúde. Fotos de Henrique Correia Braga

Pormenor do retrato de Maria Balbina dos Reis Pinto

Notas do autor

  • (1) Foi batizado a 14 de fevereiro de 1807, sendo filho de Gregório José Pinto e Inácia Maria da Silva. ANTT, Paróquia de Santa Justa, Livro de Registos de Batismos 1792-1814 (Lv. B9 – Cx. 4), disponível em: https://digitarq.arquivos.pt/ (PT-ADLSB-PRQ-PLSB31-001-B9_m0505.jpg). Agradeço ao António Cota Fevereiro esta informação.
  • (2) Estevens, 1948: 22.
  • (3) ANTT, Casa Real, cx. 6530, doc. 1. O Palácio Nacional da Ajuda (PNA) conserva dois pratos cobertos com escalfadores, com marcas de Lisboa da primeira metade do século XIX que poderão eventualmente corresponder aos “rechós com seus forros e cloches de feitio redondo” mencionados no documento (inv. 4388 e 4392). Estão ambos gravados na tampa com o M gótico coroado de D. Maria II. Agradeço esta informação a Teresa Maranhas, conservadora das coleções de ourivesaria e joalharia do PNA.
  • (4) ANTT, Casa Real, cx. 6530, doc. s. n.
  • (5) Carvalho, 1995: 20.
  • (6) Citado por Neto/Soares/Alves, 2010: 169. O pedido de orçamento foi feito não só para a Custódia de Belém, mas também para a da Patriarcal, obra finalizada por volta de 1760 pelo ourives Joaquim Caetano de Carvalho, seguindo aparentemente um projeto de João Frederico Ludovice. Está hoje exposta no Tesouro da Sé de Lisboa (inv. 118).
  • (7) Neto/Soares/Alves, 2010: 169
  • (8) Relvas, 1884: estampa 20.
  • (9) A Revista Popular diz a propósito de uma estufa para o desenvolvimento dos bichos-da-seda que figurou na Exposição dos Produtos da Indústria Nacional de 1849: “Este modelo foi perfeitamente executado pelo sr. João Diniz Collares, artista distincto e inteligentissimo, cujo nome é já muito conhecido entre nós. Pena foi que este senhor não quisesse mandar para a exposição alguns produtos da sua fábrica de folha branca de ferro”. Revista Popular, n.º 38, 1849: 305.
  • (10) Revista Universal Lisbonense, n.º 44, 04 de novembro de 1847: 520
  • (11) A primeira avaliação das pratas e joias foi confiada em 1835 ao “contraste da cidade” Luís Pedro Loureiro. Posteriormente será também chamado Raimundo José Pinto, como revela uma missiva de 14 de abril de 1848 ao encarregado da escrituração da herança, onde o ourives é referido como “perito nas avaliações da Bemposta”. ANTT, Casa Real, cx. 7327, cap. 234.
  • (12) ANTT, Casa Real, cx. 7311, cap. 91.
  • (13) Sousa, 2005: 202-204.
  • (14) Leilão de 1 de junho de 1848. ANTT, Casa Real, cx. 7327, cap. 234 e cx. 7311, cap. 91.
  • (15) Sobre as compras da Academia Nacional de Belas Artes neste leilão vejam-se Bastos, 2014: 7-32 e Xavier, 2018: 62-79
  • (16) Bastos, 2014: 24.
  • (17) Catalogo dos objectos particulares collocados na exposição philantropica, 1851: 13-15.
  • (18) Catalogo dos objectos particulares collocados na exposição philantropica, 1858: 8-23.
  • (19) Fernandes, 2017: 22-23.
  • (20) APNP, Inventário manuscrito por D. Fernando II das suas coleções de ourivesaria, marfins e esmaltes, 1866.
  • (21) ANTT, Casa Real, cx. 4385, doc. n.º 40.
  • (22) Junto a outras pratas da coleção, numa estereoscopia de autor desconhecido de cerca de 1860-1870.
  • (23) Sobre o piano vertical que se encontrava neste compartimento, numa fotografia de Francisco Rocchini de cerca de 1870-1880, inv. PNP3644/2.
  • (24) N.º 2738 da relação de objetos de ourivesaria licitados pela condessa d’Edla nas partilhas dos bens do marido. ANTT, Inventário orfanológico de D. Fernando II, vol. 8, fl. 4590v.
  • (25) Não se regista a sua presença no inventário efetuado após a sua morte, em 1929. APNP, Inventário dos bens que compõem a herança deixada por D. Elisa Frederica Hensler, condessa d’Edla.
  • (26) Soares, 1952: 141.
  • (27) Antiguidades e obras de arte, pratas e joias, Veritas, leilão n.º 24, 10/10/2013, lote 230. Agradeço a João Júlio Teixeira a identificação desta peça.
  • (28) PNA, inv. 625.
  • (29) Agradeço a Maria de Jesus Monge, diretora do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança, assim com a Marta Páscoa, arquivista, o apoio dado e esclarecimentos prestados por ocasião das minhas deslocações a Vila Viçosa em setembro de 2018 e março de 2019.
  • (30) AHCB, Secretaria de D. Fernando II, Livro de Caixa n.º 3, 19 de março de 1850, p. 18; documentos de despesa, NNG 3315, doc. 34.
  • (31) AHCB, Secretaria de D. Fernando II, documentos de despesa, NNG 3319, doc. 8.
  • (32) Em março de 1851, regista-se a aquisição de um “Alfinete de ouro para manta busto de guerreiro”. AHCB, Secretaria de D. Fernando, documentos de despesa, NNG 3316, doc. 85.
  • (33) ANTT, Inventário orfanológico de D. Fernando II; ouro, prata e pedras preciosas; objetos adquiridos antes do dia 10 de junho de 1869, vol. 2.
  • (34) AHCB, Secretaria de D. Fernando II, Livro de Caixa n.º 2, 20 de dezembro de 1849, p. 107; documentos de despesa, NNG 3314, doc. 52
  • (35) AHCB, Secretaria de D. Fernando II, NNG 3315, doc. n.º 15. Refira-se que o pagamento foi efetuado em três prestações.
  • (36) AHCB, Secretaria de D. Fernando II, documentos de despesa, NNG 3323, doc. 122.
  • (37) AHCB, Secretaria de D. Fernando II, documentos de despesa, NNG 3319, doc. 122 e 123.
  • (38) AHCB, Secretaria de D. Fernando II, documentos de despesa, NNG 2220, doc. 18.
  • (39) AHCB Secretaria de D. Fernando II, documentos de despesa, NNG 3320, doc. 47.
  • (40) Pinto, 1879: 345.
  • (41) AHCB, Secretaria de D. Fernando II, documentos de despesa, NNG 3321, doc. 18.
  • (42) Pinto, 1879: 346
  • (43) Teixeira, 2020.
  • (44) The Court Journal, 28 de maio de 1859, p. 442.
  • (45) Silva, 2000: 75-76, nota 41.
  • (46) AHCB, Secretaria de D. Fernando II, Livro de Caixa n.º 15, 30 de julho de 1862, p. 67.
  • (47) Casaram a 4 de agosto de 1835. ANTT, Paróquia de São Julião, Livro de Registos de Casamento 1831-1867 (Lv. C6 – Cx. 11), disponível em: https://digitarq.arquivos.pt/ (PT-ADLSB-PRQ-PLSB60-002-C6_m0508.jpg). Agradeço ao António Cota Fevereiro esta informação.
  • (48) AHCB, Secretaria de D. Fernando II, Livro de Caixa n.º 15, 31 de dezembro de 1862, p. 120.
  • (49) Erigido em 1876, ano da morte do filho Raimundo, o jazigo do Cemitério do Alto de S. João, encontra-se decorado com coroas de flores esculpidas em pedra com a inscrição: “À memoria de meus adorados filhos e filhas/Raymundo José Pinto/Elvira Maria Pinto/Maria dos Praseres Pinto”. Em 1877, e de acordo com o testamento, morreram Manuel dos Reis Pinto e Maria Balbina Pinto.
  • (50) N.º 131 da Rua da Conceição, vulgo dos Retroseiros. Era ainda proprietária do n.º 220 da Rua de S. Paulo, n.º 71 a 73 da Rua da Atalaia, n.º 108 a 114 da rua de S. Julião, entre outros edifícios.
  • (51) ANTT, Testamentos, 2º Bairro, Livro 28, XV-S-112 (14).
  • (52) Veja-se a “escriptura de transação, desistência e obrigação” celebrada em 1896. Arquivo da Fundação Lar de Cegos de Nossa Senhora da Saúde.
  • (53) Catalogue des objets en or et en argent et des bijoux appartenant à la succession de Madame Maria Balbina dos Reis Pinto [...] e Catalogue des tableaux existant dans la maison sise rua de Entremuros, 123 appartenant à la succession de Madame Maria Balbina dos Reis Pinto [...], 1893.
  • (54) Curvelo (coord.), 2009: 252-255.
  • (55) Faria/Beuvink/Cabeças, 2018: 376-377.
  • (56) Prefácio ao catálogo do leilão de um dos compradores da venda de 1894. Acrescenta o mesmo texto que Raimundo José Pinto “foi homem de muito gosto artístico, tendo sido encarregado por el-rei o sr. D. Fernando II de adquirir muitos objectos de arte para a rica collecção, pertencente áquelle monarca. Com a paixão sagrada da Arte, Raymundo José Pinto reservou para si grande numero de quadros e outros objectos de arte que foram por muitos anos conservados e como que venerados pela viúva D. Maria Balbina dos Reis Pinto”. Catalogo de quadros antigos da colleção adquirida pelo Exmo. Sr. José Gomes de Souza Leal principalmente no leilão judicial de D. Maria Balbina dos Reis Pinto (...), 1899: 3-4.
  • (57) Agradeço ao Presidente do Conselho Executivo da Fundação Lar de Cegos de Nossa Senhora da Saúde, Coronel José Duarte Velosa Trindade, o acesso à documentação de arquivo, assim como a oportunidade de fotografar o retrato da fundadora. Agradeço ainda ao Tenente-Coronel Pedro Marquês de Sousa pelas informações prestadas.

Fontes e bibliografia

FONTES MANUSCRITAS:

Arquivo do Palácio Nacional da Pena (APNP)

  • Inventário dos bens que compõem a herança deixada por D. Elisa Frederica Hensler, condessa d’Edla
  • Inventário manuscrito por D. Fernando II das suas coleções de ourivesaria, marfins e esmaltes, 1866.

Arquivo Histórico da Casa de Bragança (AHCB)

  • Secretaria de D. Fernando II, Livros de Caixa n.º 2, 3 e 15.
  • Secretaria de D. Fernando II, documentos de despesa, NNG 2220, NNG3314, NNG3315, NNG3316, NNG3319, NNG 3320, NNG 3321 e NNG3323.

Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT)

Paróquia de Santa Justa, Livro de Registos de Batismos 1792-1814 (Lv. B9 – Cx. 4).

Paróquia de São Julião, Livro de Registos de Casamento 1831-1867 (Lv. C6 – Cx. 11).

Testamentos, 2º Bairro, Livro 28, XV-S-112 (14).

 

PERIÓDICOS:

  • The Court Journal, 28 de maio de 1859
  • Revista Popular, n.º 38, 1849
  • Revista Universal Lisbonense, n.º 44, 4 de novembro de 1847

 

FONTES IMPRESSAS:

  • Antiguidades e obras de arte, pratas e joias, Veritas, leilão n.º 24, 10 de outubro de 2013.
  • Catalogo dos objectos particulares collocados na exposição philantropica. Lisboa: Imprensa Nacional, 1851.
  • Catalogo dos objectos particulares collocados na exposição philantropica. Lisboa: Sociedade Typographica franco-portugueza de Lallemant & C.ª, 1858.
  • Catalogo de quadros antigos da colleção adquirida pelo Exmo. Sr. José Gomes de Souza Leal principalmente no leilão judicial de D. Maria Balbina dos Reis Pinto (...). Lisboa: Impresa de Libanio da Silva, 1899.
  • Catalogue des objets en or et en argent et des bijoux appartenant à la succession de Madame Maria Balbina dos Reis Pinto (...). Lisboa: Typ. e lith. a vapor da Papelaria Progresso, 1893.
  • Catalogue des tableaux existant dans la maison sise rua de Entremuros, 123 appartenant à la succession de Madame Maria Balbina dos Reis Pinto (...). Lisboa: Typ. e lith. a vapor da Papelaria Progresso, 1893.

 

BIBLIOGRAFIA:

  • BASTOS, Celina (2014): “Percurso de uma pintura”. Luca Giordano. Êxtase de São Francisco, Lisboa, MNAA, p. 7-32.
  • CARVALHO, José Alberto Seabra (1995): “Dos conventos ao museu: histórias que o forno apagou”. Inventário do Museu Nacional de Arte Antiga. Coleção de Ourivesaria, 1º volume, Do Românico ao Gótico, Lisboa, IPM, p. 19-21.
  • CURVELO, Alexandra (2009) (coord.): A Casa Perfeitíssima: 500 anos da fundação do Mosteiro da Madre de Deus 1509-2009, Lisboa, MNAz/IMC [catálogo exposição].
  • ESTEVENS, Manuel Santos (1948): O livro das marcas de ourives da Câmara de Lisboa 1791-1833. Separata de “Olisipo”, Lisboa, Editorial Império.
  • FARIA, Miguel Figueira de/BEUVINK, Aline Gallasch-Hall/CABEÇAS, Raquel Medina (2018): “A galeria Borba-Redondo: notas de investigação”. Dinâmicas do Património Artístico, circulação, transformações e diálogos, Lisboa, Artis, p. 371-387.
  • FERNANDES, Maria de Fátima da Paz (2017): O Palácio de Runa: História, Arte e Programa de Musealização, Tese de Mestrado em Arte, Património e Teoria do Restauro, FLUL (policopiada)
  • NETO, Maria João; ALVES, Alice; SOARES, Clara (2001): “A Custódia de Belém: um símbolo nacional entre o Liberalismo e o Estado Novo”. A Custódia de Belém 500 anos, Lisboa, MNAA, p. 161-181.
  • PINTO, A. A, da Fonseca (1879): “Cartas familiares XIII A flor de mármore”. O Instituto, XXVI ano, 2ª série, Coimbra, Imprensa da Universidade, p. 335-248.
  • RELVAS, Carlos (1884): Album de phototypias da exposição retrospectiva de arte ornamental em Lisboa, Lisboa, Officina de J. Leipold.
  • SILVA, Nuno Vassallo e (2000): “Os Pollet, joalheiros de D. Maria I”, Oceanos, n.º 43, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, p. 66-76.
  • SOARES, Ernesto (1952): El-Rei D. Fernando II artista, Lisboa, Fundação da Casa de Bragança.
  • SOUSA, Nestor de (2005): “Ourivesaria religiosa em S. Miguel de 1532 aos começos do século XX”. Arquipélago História, 2ª série, IX, p. 183-208.
  • TEIXEIRA, João Júlio Rumsey (2020): Uma tiara com 4000 diamantes: história e paradeiro da tiara de D. Estefânia, reconvertida por D. Maria Pia e vendida após a implantação da república 1858-1912. - Disponível em: https://www.academia.edu/42831590/A_tiara_with_4000_diamonds
  • XAVIER, Hugo (2018): O marquês de Sousa Holstein e a formação da Galeria Nacional de Pintura da Academia de Belas Artes de Lisboa, Caleidoscópio/DGPC.

Enquadramento

Este texto corresponde a um ponto do capítulo “Compras em Portugal”, inserido num estudo mais alargado sobre as coleções de D. Fernando II, iniciado em 2017, a partir de um inventário redigido pelo rei em 1866, documento doado à Parques de Sintra – Monte da Lua para integrar o acervo do Palácio Nacional da Pena (PNP). A publicação deste estudo, que inclui a transcrição integral do inventário, está prevista para 2021, no âmbito da iniciativa editorial da Parques de Sintra “Coleções em Foco”, com o título “Propriedade minha: ourivesaria, marfins e esmaltes da coleção de D. Fernando II”. O autor agradece a Fernando Montesinos, conservador do Palácio Nacional de Sintra, a revisão do texto e consequentes sugestões.

Dados para citação e referência:

XAVIER, Hugo (2020): “Raimundo José Pinto (1807-1859), ourives e agente artístico de D. Fernando II” in ‘Propriedade minha: ourivesaria, marfins e esmaltes da coleção de D. Fernando II’, Coleções em Foco, n.º 4, Sintra, PSML (2021, no prelo).